O melhor local para observar a fauna da Mercearia São Pedro é o balcão. De lá, qual ornitólogo experimentado, é possível catalogar as espécies do lugar no intervalo do futebol. E as plumagens são bem variadas, não tem só corvo-escritor.
Tem passarinha-atriz aos bandos e cotovias-cantoras em carreiras solo; lobo-cineasta sempre em posição de ataque e urubus-de-viola ensaiando a próxima festa no céu. Tem de tudo, de ex-craque avestruz a siriemas do vôlei.
O único artigo em falta naquele poleiro é jaburu. O grande cientista da Mercearia é mestre Antonio, sábio chapeiro. Dizem os "habitués" mais sacanas que ele faz previsões futebolísticas e casamenteiras, além de ser responsável por batizar garçons: o último a pousar recebeu a alcunha de "petit gâteau".
Na infinita dança do balcão, uma variação meio hula-hula da encoxação rumo ao banheiro, tudo pode acontecer. O ritmo mais quente do ambiente, porém, é o da amizade. Taí algo que não falta naquelas prateleiras gordurosas, além de livros e cerveja gelada.
Sem esquecer as rodadas de pastel de fim de tarde, busque no cardápio o bauru de pastrami com meu nome: ter seu nome no cardápio é a mais saborosa imortalidade que um escritor pode almejar.
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