"Foram semanas de pouco sono", diz diretor de "Um Romance de Geração"

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David França Mendes, que dirigiu curtas e documentários, faz seu primeiro longa

Primeiro longa-metragem de ficção realizado pelo diretor David França Mendes, "Um Romance de Geração" entra em cartaz nesta sexta-feira (7), nas salas de cinema de São Paulo e Rio de Janeiro.

Inspirado no livro de Sérgio Sant'Anna, que também participa das filmagens, o enredo é centrado em dois protagonistas. Um escritor decadente que publicou apenas uma obra, e se apega a esse único grande fato de sua vida, e uma jornalista que vai atrás dele em busca de uma entrevista. Desse casal formado pelas circunstâncias, surge um relacionamento ora cômico, ora trágico, ora triste, ambientado em um Brasil dos anos 1970.

No filme, o ator Isaac Bernat consegue transmitir simpatia ao seu escritor fanfarrão, dando ares bem brasileiros ao personagem, enquanto três atrizes diferentes se revezam no papel da jornalista --Lorena da Silva, Susana Ribeiro e Nina Morena.

O diretor, também conhecido por seus trabalhos como roteirista ("O Caminho das Nuvens"), mas que já dirigiu curtas, documentários ("2.000 Nordestes") e programas de TV, fala sobre o filme que acaba de chegar aos cinemas:

Folha - São três atrizes diferentes interpretando a mesma jornalista. Como surgiu essa ideia e como foi trabalhar com as atrizes?
David França Mendes - A ideia surgiu logo no início. O livro do Sérgio Sant'Anna usa vários recursos metalinguísticos, "pisca o olho" para o leitor de diversas maneiras. Eu queria que o filme também fizesse isso, mas com recursos cinematográficos. A ideia das três atrizes veio daí. Trabalhar com elas foi ótimo. Elas foram escolhidas porque são todas muito talentosas e porque traziam propostas para a personagem muito diferentes, como se vibrassem em diferentes frequências.

Folha - O filme mostra vários trechos de preparação dos atores. Por que você optou por essas intervenções no meio da narrativa?
David França Mendes - Pelo mesmo motivo da opção pelas três atrizes: desejo de ser fiel ao espírito do livro do Sérgio. O livro se discute enquanto se narra, inclui muito pensamento sobre arte, literatura, teatro. Mostrar o processo foi a minha maneira de fazer isso, sem deixar de contar a história.

Folha - Como foi trabalhar com o autor do livro, que acabou participando de várias cenas como ele mesmo?
David França Mendes - Sérgio Sant'Anna não só é um dos nossos maiores escritores, mas é também um dos nossos artistas mais ousados, um cara que acredita e aposta no risco e no desejo. Ele viu que o nosso projeto era justamente um projeto de risco, em todos os sentidos, risco artístico e de produção, e embarcou conosco como mais um da equipe. Um "mais um" especialíssimo, é claro.

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Folha - Foi um filme difícil de fazer?
David França Mendes - Pelo lado da produção, sim, porque foi feito sem dinheiro algum. Isso é muito desgastante. Apenas para dar um exemplo: nós filmávamos das cinco da tarde às três da manhã todo dia, porque durante o dia a maior parte da equipe, incluindo eu mesmo, tinha que fazer outros trabalhos. Foram cinco semanas de muito pouco sono. Do ponto de vista criativo, no entanto, eu diria que foi tudo um prazer muito grande, pois o envolvimento da equipe era de um tipo que você muitas vezes não encontra numa situação mais profissional.

Folha - Os personagens de "Um Romance de Geração" são típicos dos anos 1960 e 1970, mas o filme não se preocupa muito em situar esse período para o público mais jovem. O filme foi feito propositalmente para um público mais maduro?
David França Mendes - Não, eu não pensei em fazer o filme para um público mais maduro. A gente sempre acreditou que as referências aos anos 1970 eram menos importantes do que o jogo de sedução, literária e sensual, entre o escritor e a jornalista. Acho também que muito do que se fala sobre os anos 70 acaba se explicando dentro do próprio filme.

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