Leia entrevista com o criador da mostra "6 Bilhões de Outros"

O fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand, 65, teve a ideia para o projeto "6 Bilhões de Outros" nos anos 1980, enquanto produzia o livro "A Terra Vista do Céu" --com retratos aéreos do impacto do homem sobre o meio ambiente.

Seu helicóptero teve uma pane no Mali, e ele se sensibilizou com a carinhosa acolhida de uma família em um vilarejo. Resolveu dar voz a anônimos como eles. O resultado é a mostra "6 Bilhões de Outros", que estreou em janeiro de 2009, em Paris, e acaba de chegar ao Masp.

São 11 horas de vídeos em que pessoas do mundo inteiro respondem a um questionário com 40 perguntas, como: Qual o seu maior medo? Quais são os seus sonhos atuais?

A mostra também tem um "making of" e um filme local --"Somos São Paulo", com depoimentos de 61 habitantes da cidade sobre migração e imigração na capital paulista.

Crédito: Eva Ferrero/Divulgação O fotógrafo e jornalista francês Yann Arthus-Bertrand, idealizador da mostra "6 Bilhões de Outros", em cartaz no Masp
O fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand, idealizador da mostra "6 Bilhões de Outros", em cartaz no Masp

Na última terça-feira (19), na véspera da abertura da mostra, Arthus-Bertand falou ao Guia:

Guia Folha - Quando começou o projeto, em 2003, você já sabia quantas pessoas sua equipe iria entrevistar?
Yann Arthus-Bertrand - Não, mas, para fazer um trabalho como esse, não há interesse a menos que você faça com muitas pessoas. É preciso entrevistar milhares. E é essa massa de pessoas que formam uma única voz. O interessante é que é como um espelho, como se você mesmo falasse.

Como é a equipe que trabalha com você?
São cineastas que convidamos. Os primeiros já foram para outros projetos e estamos formando outros artistas. É um trabalho que não nos pertence, pois todo mundo pode fazer um pouco, mesmo que por meio da internet. Gostaria que outras pessoas se interessassem e participassem, que a iniciativa não viesse apenas de nós. E tudo é gratuito, distribuído --e os cineastas muitas vezes não gostam disso.

Vocês enfrentaram problemas nas filmagens?
Muitas pessoas que entrevistamos não quiseram que nós utilizássemos suas entrevistas. Porque fazemos perguntas complicadas, como "Qual foi o momento mais difícil da sua vida?". Havia mulheres no Afeganistão, por exemplo, que sofriam com violência doméstica e não quiseram que passássemos o filme. E, claro, não passamos.

Crédito: Divulgação Mosaico com alguns dos 5.600 entrevistados que compõem a exposição "6 Bilhões de Outros", no Masp
Mosaico com alguns dos 5.600 entrevistados que compõem a exposição "6 Bilhões de Outros", no Masp

A exposição já passou por várias cidades europeias e asiáticas. Como é esse aspecto itinerante?
Eu a vejo como uma exposição que irá por todo o lugar por muito tempo. Acho que é essencial. Antes eu não sabia o quão importante era isso, de escutar o outro. Acredito que todo mundo tem algo a dizer e todos temos algo a aprender com os outros.

Em cada lugar em que a mostra passa é feito um novo filme?
Eu tento, mas nem sempre dá. Na Rússia, por exemplo, não conseguimos fazer. Atualmente, há uma exposição na Espanha, e estamos tentando fazer um filme sobre o que significa ser basco. Também fizemos uma mostra na Bélgica sobre o que é ser belga. Eu sempre tento fazer um filme sobre um projeto específico. Aqui no Masp temos um filme sobre o que é ser um imigrante na cidade de São Paulo. Ele foi feito para a exposição [pelos diretores Lucas Bambozzi e Kika Nicolela]. Gosto do tema. Acho que o nacionalismo é a praga da humanidade. É terrível, e a gente se dá conta que não importa se somos franceses, brasileiros, somos todos homens sobre a terra, e os problemas são globais. As pessoas que vêm para seu país só trazem riqueza. É o meu lado utopista.

Qual é a sua impressão de São Paulo?
São Paulo, primeiramente, é uma cidade muito feia, uma das mais feias que eu conheço. E, ao mesmo tempo, é cheia de energia, viva. Mas a riqueza de uma cidade não são as casas, e sim as pessoas que as habitam. Nesta semana, fui ao Museu Afro-Brasil. Adoro esse museu, o diretor [Emanoel Araújo] é formidável. E certamente faremos, no futuro, um trabalho lá sobre o que é ser negro no Brasil.

Quais são os seus próximos projetos?
Estamos fazendo um projeto sobre os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, de Kofi Annan. Neste momento, temos seis equipes trabalhando. Também tenho um projeto sobre o que é o ódio. Vamos ao Iraque, Palestina, Afeganistão, Ruanda. Outro trabalho em vista é sobre educação. Iremos ao mundo todo perguntar às crianças por que eles vão à escola. Além disso, acho que vamos fazer uma exposição bem grande no ano que vem para o encontro Rio+20.

Masp - av. Paulista, 1.578, Bela Vista, centro, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/3251-5644. Até 10/7. Ter. a dom. e feriados: 11h às 18h. Qui.: 11h às 20h. Ingr.: R$ 15 (às ter., grátis). Classificação etária: livre.

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