Festa de despedida do clubinho gera fila e muita nostalgia

Ao caminhar pela pequenina Rua Pequetita, na última sexta-feira (11), já era possível ver a enorme fila formada para participar da última festa da lendária Lov.e. A casa conceito, durante 10 anos de funcionamento, lançou moda e uniu, no mesmo local, os mais diferentes perfis de freqüentadores, que iam desde famosos a ilustres anônimos.

Crédito: Mônica Ribeiro e Ribeiro/Folha Imagem
Público lota última festa da casa noturna Lov.e (foto), em São Paulo, ao som de drum n´bass

No último dia, como não poderia deixar de ser, o público era composto por uma mistura de freqüentadores da cena, alguns alternativos e meninas de salto alto -- objeto que dificulta, e bastante, a tentativa de dançar livremente as batidas do drum n´bass. O ritmo valorizado pela casa, desde os seus primórdios, foi tema desta última celebração.

Na espera pela liberação da entrada, que ocorreu depois da meia-noite, o público misturava à ansiedade muita indignação. "Aqui era um dos poucos lugares em que dava pra curtir exclusivamente drum´n´bass. Vai ser uma pena", disse o universitário Rafael Moretti, 24 anos, habitué há cinco anos do clubinho. Adepto ao som mais pesado, ele foi para ouvir novamente os sets de Marky e Andy, que acabou não comparecendo à despedida.

Mesmo com apenas 18 anos, a cabeleireira Patrícia Serato visitava a casa há dois anos. Para ela, que se declarou indignada com o fechamento, uns dos motivos da interrupção foi o aspecto seletivo que a Lov.e ganhou no decorrer dos anos. "De quinta, quando o Marky era residente, chegou uma hora que só a galera fiel ao som vinha. Eu, por exemplo, saía direto do trampo e vinha pra cá. Acho que para o próprio Marky também deveria ser ruim".

Cansaço

Proprietária da casa, Flávia Ceccato diz que a Lov.e encerra suas atividades com missão cumprida. O fato de a sede estar localizada na Vila Olímpia, segundo ela, contribuiu para o fechamento.

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O DJ Patife (foto) dá início a celebração de despedida da Lov.e

"As pessoas não querem mais vir pra cá, os estacionamentos têm a cara de pau de cobrar 20 reais. Quando a gente veio não tinha nada, era um bairro muito comercial. Hoje têm prédios enormes aqui atrás, e com isso as pessoas se incomodam com o barulho, obviamente".

Ela alega também que "as pessoas cansaram" de freqüentar o local. "Eu também cansei, perdi o tesão de fazer a coisa continuar. Eu sabia que ia chegar um dia que não daria mais para continuar com a casa. É um processo natural [o fim], até que durou bastante", enfatiza Ceccato.

Quanto a lançar um outro projeto na noite paulistana, a idealizadora do clubinho despista. "Estou sendo sondada por várias pessoas, o que vai acontecer daqui pra frente, eu não sei".

Nostalgia

Com toda a autoridade de DJ mais antigo da Lov.e - afinal, foram oito anos como residente - Marky lamentou o fim do clube, até porque a casa foi pioneira em dar destaque ao então ritmo groove pouco difundido na capital paulista. ''Aqui foi um ponto inicial. Tive ótimos momentos na Lov.e. É muito triste ver um clube como esse acabar. Durante anos, passaram muitas pessoas e muitos sons de altíssima qualidade".

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O DJ Marky (foto)fecha a noite da festa de despedida do clubinho

Antes do top DJ entrar, outro grande nome do drum´n´bass brasileiro, Patife, colocou o pessoal para dançar com o seu set característico, mais melódico e com muita MPB adicionada ao som. Teve até direito a "Tem que valer" (2003), lembra? Aquele hit de verão do duo Kaleidoscópio, que entrou na trilha da vespertina Malhação, da Globo.

O revival fez a alegria não só do público, mas também do próprio Ramilson Maia, que estava no meio da galera curtindo a festa. ''Não vou subir para tocar, pois já tem muita gente. Vim mesmo só curtir. Fiquei muito feliz em ver que, após cinco anos, as pessoas ainda cantam do começo ao fim a nossa música", declarou o DJ, que formava dupla com a cantora Janaína Lima.

Também compartilharam das mesmas pick-ups convidados como Koloral, Marnel, Will e 2Funky. Marky só entrou às 4h10 e fechou a noite, com as suas performances de sempre. Tocou vários clássicos contidos em seus sets, como a pop "Tough at the top" do EZ-Rollers e até o remix de "Calhambeque", do Roberto Carlos. A festa reuniu 600 pessoas e teve seu fim às 9h30 de sábado (12).

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