Conheça balada secreta que recebeu Madonna em São Paulo

GUSTAVO FIORATTI
da Revista da Folha

03/02/2009

21h19

Bar Secreto! Não tem nome na porta. Mas tudo bem. A Madonna, a galera do Justice, que tocou no Skol Beats, e o Michael Stipe, do REM, pisaram ali, e toda a São Paulo descolada ficou sabendo onde fica. Além do endereço (rua Álvaro Anes, esquina com a rua Cunha Gago, em Pinheiros, na região oeste da capital paulista), alguns sites deram um jeito de distribuir dicas sobre a casa. Quase sempre no tom "não-ultrapasse-a-linha-vermelha".

Para uma primeira investida em direção a tal enigma paulistano, era preciso buscar informações sobre aquele "inferninho" --palavra usada para definir a casa em vários blogs, que remete a lugares pequenos e cheios de más intenções.

Cheguei a pé, o que de cara me deixa numa espécie de subcategoria. E fui barrado, como era de se esperar, mesmo porque a noite era só para convidados. "Esta semana está difícil, querido. Tem festas da Fashion Week. Volta outro dia", me explicou a loira, sorridente. Superssimpática. Fofa mesmo.

Permaneci num cantinho da rua, fingindo que falava ao celular. Do lado de fora do Bar Secreto, estavam alguns fotógrafos debaixo de chuva, esperando a modelo inglesa Agyness Deyn, a personalidade da hora.

Fiquei naquele suspense até que meu amigo Diego, designer, saiu triunfante pela porta do bar, envolto em fumaça. Usava uma bata colorida cheia de penduricalhos que ele mesmo confecciona. Diego fugia da música alta. "Cadê a trava?", berrava ao celular, referindo-se a uma amiga travesti. Chique e influente, ele me pôs pra dentro em dois segundos.

A iluminação é de primeira. Ambiente à meia-luz, mas que permite ver o rosto de todo mundo. Lustres pomposos, abajures, móveis antigos, pé-direito baixo e pinturas de paisagem, que me fizeram lembrar o sítio de minha tia Emília. Uma escada de madeira sobe por trás do bar. No andar de cima, uma sala de estar mistura móveis clássicos e modernos.

A clientela é a mesma de clubes como D-Edge, Vegas e Alôca, das festinhas da Fashion Week e da Oscar Freire. A percepção geral é a de que a noite estava fraca, apesar da top internacional, do Red Label, do champanhe "free" e dos sanduíches ao som de Marina Lima.

Ainda rolaram músicas do tipo Britney Spears e Madonna. Um carinha que eu vejo em várias festas veio até mim. Disse que gostou da minha camiseta de listras vermelhas, brancas e pretas. Que eu parecia o Wally, do livro "Onde Está Wally?".

Fiquei alguns minutos ouvindo sobre a importância do personagem na infância dele. "É muito anos 80", arrematou. "É mais começo dos anos 90", respondi. Um diálogo com frases que, nessas baladas, todo mundo tem que ter na ponta da língua.

Bianca Exótica

A turma do estilista Dudu Bertholini estava em peso. Todos muito coloridos, dançando à vontade. Agyness Deyn ficou na dela, trocando ideia com um povo classudo. Bianca Exótica, que eu tinha visto fazendo show de transformismo na boate Alôca, roubava mais a atenção do que a modelo inglesa.

Debandada geral. Era hora de ir para outra festa. Peguei carona com Bianca num carro lotado. "Cabe mais um?" perguntei. "Se for hetero cabem mais dez", ela respondeu, dando a partida.

Fiquei espremido entre uma garota desconhecida e a porta do carro, e lá fomos nós pelas ruas sinuosas do Alto de Pinheiros. Chegamos ao casarão. Bianca é tão descolada que as 15 pessoas que entraram atrás dela não precisaram dar nome aos seguranças. "Estão comigo, querido", disse ela. Fui junto.

A primeira rodinha que encontro era de atores. "Deixaram o pessoal do teatro entrar? Achei que era só para VIPs", provoquei. "A gente assaltou a casa do lado e pulou o muro", respondeu um deles. "Você veio de pijamas?", disse um outro --meu look "Onde Está Wally?" estava rendendo.

Muita bebida. Várias pessoas do circuito fashion sorrindo e segurando bexigas coloridas, dançando, bebendo em taças de acrílico, em um clima bem mais animado do que o do Bar Secreto. Tocaram sucessos do MGMT, Peter Bjorn and John, Madonna. Uma outra balada secreta...

Apaguei total. De repente, o sol entrou pela janela e eu estava dormindo numa cama. Na minha cama. "Obrigado, Senhor", pensei. E dormi de novo.

Leia mais

Especial