É preciso provocar a moçada, diz Rafael Cortez sobre novo audiolivro

Muita gente não sabe que Rafael Cortez já gravou um disco instrumental tocando violão ("Elegia da Alma", de 2011) e que produziu cinco audiolivros.

E é essa faceta literária que o repórter do "CQC" vai mostrar ao público na Virada Cultural, à 1h de domingo (6), no palco montado pela Libre (Liga Brasileira de Editoras) no Largo São Bento (centro de São Paulo).

Crédito: Divulgação
Repórter do "CQC" Rafael Cortez (foto) já gravou, em 2011, um disco instrumental tocando violão, além de cinco audiolivros

Na ocasião, Cortez vai tocar trechos do seu mais novo audiolivro de "O Meu Pé de Laranja-Lima" (Editora Livro Falante), clássico de José Mauro de Vasconcelos, e também participar de um bate-papo com o público.

"É um título que eu mesmo pedi à editora porque mexeu demais comigo na infância, e mexe até hoje", diz o artista, que já gravou outros quatro de Machado de Assis. "É preciso provocar essa moçada e não dar a ela apenas mais do mesmo."

Ainda durante a Virada Cultural, Rafael Cortez se apresenta no Palco "Stand-up" instalado na praça da Sé (centro): seu show de comédia está marcado para as 2h30 (madrugada de sábado para domingo), ao lado de Marcos Castro, Gus Fernandes, Robson Nunes, Murilo Gun e Patrick Maia --com Bruno Motta de MC.

Crédito: Na Lata/Divulgação Rafael Cortez (foto) toca trechos de seu novo audiolivro durante a Virada Cultural, no sábado (5)
Rafael Cortez (foto) toca trechos de seu novo audiolivro durante a Virada Cultural, no sábado (5)


LEIA ENTREVISTA COM RAFAEL CORTEZ:

Guia Folha - Qual a importância dos audiolivros pra você?
Audiolivros são um grande trabalho para um ator. Não sou ator formado com diploma, como sou como jornalista, mas sou ator na prática, por ter feito já muito teatro antes do "CQC" e, de alguma maneira, continuar fazendo no meu solo de humor, o "De Tudo Um Pouco". Mas aquela coisa de fazer uma peça mesmo, ou um curta no cinema, ou um filme, isso não pode acontecer por conta do meu processo de trabalho com o "CQC". Então rolou, muito por caso, o convite para eu ler um conto do Machado e, quem sabe, fazê-lo virar um audiolivro. Foi quando eu percebi que gravar audiolivro é um desafio gigante para um ator.

Por quê?
Você não pode exagerar nas composições dos personagens, senão afasta o ouvinte da trama... e, no audiolivro, o protagonista é sempre o texto, é a história que vale. Por outro lado, se você grava de modo econômico demais, apenas lendo, sem intenção de nada, em pouco tempo o ouvinte te acha um chato e, por tabela, vai achar o mesmo da história. É preciso encontrar um equilíbrio na leitura e gravação, e sentir isso, a cada obra lida e registrada, é o grande barato.

É bom fazer tantas coisas diferentes, como teatro, música e essas incursões na literatura?
É sensacional, para mim, transitar por áreas mais diversas e que me tirem um pouco do foco do humor. Amo a comédia e sou muito grato a ela, mas tendo em vista que tenho um público grande e muito jovem, graças ao "CQC", fico feliz de usar da minha popularidade para aproximar a juventude de valores nobres por meio da literatura e da música instrumental, por exemplo. É preciso provocar essa moçada e não dar a ela apenas mais do mesmo. Essa turma precisa aprender com os mestres e pensar mais alto também.

Crédito: Rubens Cavallari/Folhapress Rafael Cortez (foto) tem dois compromissos na Virada: vai tocar trechos do audiolivro e fazer show de humor
Rafael Cortez (foto) tem dois compromissos na Virada: vai tocar trechos do audiolivro e fazer show de humor

Acha importante que outros artistas invistam nesse tipo de trabalho?
Há uma tendência natural de popularizar o audiolivro. E isso acontece porque já está rolando isso fora do Brasil --e nós, como sempre, vamos no embalo. Muita gente conhecida já está gravando --o próprio Marcelo Tas e o Danilo Gentili-- já gravaram os seus, por exemplo. Como um dos pioneiros (ao menos entre os "CQCs") dessa prática, é claro que amo os audiolivros e quero que eles se popularizem, afinal, audiolivro ainda é uma forma de aproximar as pessoas da literatura; ainda é a obra, ainda que de modo mais cômodo para o consumidor final. Por outro lado, é essa coisa acomodada do público que me preocupa. Sei que, quanto mais se investe nesse mercado, mais isso revela um desapego das pessoas com os livros reais, em sua versão definitiva, bem como uma certa preguiça de confrontar as obras.

O que seria o ideal?
Muitos adolescentes me agradecem por ter lido e gravado os [livros do] Machado --eles caem em provas de vestibular, e a galera não tem saco para ler. Ficam felizes que eu tenha feito a parte deles, como se isso resolvesse a questão. Um audiolivro nunca substitui o livro como ele é. Eu mesmo sempre recomendo que as pessoas ouçam meus audiolivros com o livro ao lado, acompanhando tudo. Essa é a experiência completa, e foi pensando muito mais nisso que topei as gravações. Sei que pouca gente lembra disso ou faz o que aconselhei, e que os audiolivros são comprados, muitas vezes, para se ter um jeito mais fácil de assimilar o texto. Mas, como eu disse, em tempos tão burros, ainda é louvável que existam investimentos em literatura, mesmo com os riscos que esses "produtos mutantes" possam trazer.

Pode indicar cinco livros que foram fundamentais na sua vida?
- "O Meu Pé de Laranja-Lima", de José Mauro de Vasconcelos
- "Dom Casmurro", de Machado de Assis
- "O Tempo e o Vento" ("O Arquipélago"), de Érico Veríssimo
- "Vidas Secas", de Graciliano Ramos
- "Abusado", de Caco Barcelos

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