Grito crítico de Laurie Anderson agrada público quarentão

A norte-americana Laurie Anderson, 61, artista plástica, instrumentista, cantora e multimídia fez suas duas primeiras e únicas apresentações em São Paulo nesta sexta e sábado, no Sesc Pinheiros. A artista, talvez não muito conhecida dos mais jovens e que em quase todas as referências é lembrada como mulher de Lou Reed --como se isso fosse necessário--, teve ingressos esgotados para as duas noites e reuniu um público destacado por cabelos brancos, calvície, um pouco de rugas e muito bom gosto.

Laurie Anderson é moderna, criativa, encantadora. Fez um show --como já se sabia-- repleto de críticas políticas e referências a governos autoritários, usando sempre como exemplo seu próprio país --vale lembrar que a administração de George W. Bush passou por cima da decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas e invadiu o Iraque. É disso que ela fala muito, e com propriedade.

Mas ela não é uma velhota chata adepta do grito crítico sem mais nem menos, muito pelo contrário, o show é divertido, bem humorado, ela ri de si mesma quando diz: "Nos EUA nós temos empresas para resolver todos os problemas, e se não houver um problema, temos especialistas para criar problemas. Há empresas que resolvem tudo, resolvem até o sushi

Crédito: Ansis Starks/Efe
"Homeland" tem efeitos eletrônicos, mistura que Laurie Anderson faz há muitos anos

E quando fala de relacionamentos, Mrs. Anderson é atual também, fala de amores falidos, mas insistentes, fala do desejo comprimido e velado pela necessidade da presença do outro. "Eu finjo que sou feliz, e você finge estar aí."

O show "Homeland" é todo encorpado com efeitos eletrônicos, mistura que ela já faz há muitos anos, bem antes de a onda da eletronic music invadir as pistas. Ela faz de tudo com a música, brinca com vozes e distorções do seu violino e, com a ajuda de algo que eu chamaria de "cyber óculos" e outros recursos de multimídia, faz um solo com o som do vácuo da própria cabeça. Divertido.

Aplaudida de pé, a artista voltou ao palco três vezes para agradecer. Na última, entrou sozinha e fez um solo de violino caminhando por entre as velas que iluminavam o cenário, até chegar o mais próximo possível da platéia.

Ainda bem que ela veio tocar aqui no Brasil e mostrar um pouco do engajamento, não só político, mas com a vida, que muitos artistas hoje em dia não têm mais. Depois de assistir ao show da senhorinha que mostra sua indignação com assuntos cansativos e exaustivamente discutidos, como guerras desnecessárias, governos viciados em poder e relacionamentos falidos, dá para resumir o show dizendo God Save America e Laurie Anderson também.

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