Numismata destila "Chorume" por três noites na Livraria da Esquina

Crédito: Fernando Angulo/Divulgação

Ouvir uma canção que te desperta referências, mas que não se encaixa em apenas uma definição do vocabulário musical. Do samba ao rock, tudo misturado, com muita classe, nostalgia e distorção. O som do Numismata é assim, se parece com Numismata. A banda, que lançou recentemente o segundo disco, "Chorume", dá início a uma divertida temporada nesta quinta-feira (8), na Livraria da Esquina, onde mostra, acompanhada de seus convidados, a unidade do abrangente som que faz desde 2003, ano em que colocaram na rua sua primeira cria, "Brazilians on the Moon".

Na estreia, a banda de Adalberto Rabelo Filho (guitarra), André Vilela (guitarra), Carlos H. (baixo), Felipe Veiga (bateria), Piero Damiani (vocal, teclados e percussão) e Russo (vocal e percussão) recebem Pullovers, banda paulista que, depois de dez anos, encara o desafio de fazer rock em português. Nas próximas datas, Monique Maion (dia 15) e Bazar Pamplona (dia 22) encaram o palquinho da casa.

Cada noite terá também agitadores culturais de São Paulo à cargo das seleções musicais nos pick-ups: Alice Coutinho e Ana Carmo (das festas Bendita! e Domenica), Tatá Aeroplano (do Jumbo Elektro e do Cérebro Eletrônico) e Katia Abreu e Pamela Leme (Agência Alavanca), respectivamente.

"Apesar de eu não poder participar da temporada, sei que vai ser bem legal. O Bazar Pamplona é 'brother' há um tempão, é uma galera muito legal, engraçada. O som deles é e não é diferente do nosso. Eles são mais para o lado do Pavement, do Weezer, com bom humor, uma levada de folk também", conta Adalberto, uma das seis cabeças desse "samba do criolo doido", como ele mesmo define o Numismata. "A Monique Maion toca com o Piero... e eu gosto das referências dela. O Pullovers é demais também, gosto muito daquela 'Tudo que Eu Sempre Sonhei', que eles gravaram no Música de Bolso, embaixo da ponte.

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Samba do criolo doido

Crédito: Fernando Angulo/Divulgação

Folha Online - Vocês são em seis, essa "mistureba" de sons acaba sendo inevitável...
Adalberto - A partir do momento que você tem uma assinatura de estilo, por mais esquizofrênico que ele seja, você pode transitar naturalmente por quaisquer outros ritmos, sem parecer que está forçando.

Folha Online - De onde vem o apego com o samba?
Adalberto - Eu acho que a identificação que temos com ele, o samba, o elemento do qual nos apropriamos, digamos assim, é com a estrutura das letras, essas síncopes, essa adaptação ao jeito como se fala o português no Brasil, que garante a fluidez da prosódia. O samba, assim como o forró, o maracatu, a música nascida no Brasil, reproduz a fala do brasileiro, o coloquial, ficando livre para abranger, para comentar qualquer assunto. Agora, como é um gênero cuja forma mais reconhecida já é de caráter urbano, eu acho que vem daí a nossa maior proximidade com o dito cujo.

Folha Online - De "Brazilians on the Moon" a "Chorume", a sonoridade do Numismata ficou mais rock...
Adalberto - Isso foi rolando naturalmente, conforme as canções foram pedindo. Não existe uma censura interna, e todos ouvimos um monte de coisas diferentes. Eu acho que música tem de ter esse caráter ecumênico, agregário. O esquisito, para mim, seria que não rolasse essa mistura. Acho que, se a gente não estranha ouvir um bando de coisa diferente no mp3, no shuffle, faz sentido que isso tenha consequência no som que a gente faz.

Folha Online - "O Inferno e um Pouco Mais" é uma ousadia que deu certo. Como foi trabalhar com Kassin?
Adalberto - O Kassin é um dos caras mais gente fina que conhecemos. Todas as vezes que nos encontramos, sempre temos conversas legais a respeito de novidades musicais, raridades, curiosidades musicais, essas paradas. Algum dia a gente ainda se reúne pra fazer alguma cara a cara, no estúdio ou até ao vivo, com certeza ia ser bem bacana. Agora, em "Inferno e um Pouco Mais", a coisa se deu de uma maneira bem afeita aos tempos modernos: mandamos a música pela internet e ele mandou ver, do jeito que quis, e muito bem, aliás, lá no Monoaural [estúdio do Kassin]!

Folha Online - A história do convite do Luiz Melodia é interessante. Foi um auto-convite?
Adalberto - Foi bem isso mesmo. Eu estava conversando com Jards Macalé depois de um show que ele fez com o Melodia. Então o Melodia entra no camarim e eles começam a bater papo, dar risada. No meio da conversa, o Macalé falou para Melodia, daquele jeito dele: "Esse aqui (apontando pra mim) é roqueiro. Tudo maluco. Gravou 'Mal Secreto' no disco do Numismata, eu cantei com eles, uma versão moderníssíma, precisa ouvir!'. Nessas, o Melodia virou e disse: "Me convida também!", e eu: "Sério?", e ele, batendo no pescoço: "Claro, cara! Negão aqui tem gogó!" Caímos na risada e eu falei: "Olha, cara, eu vou ser chato, hein, é sério mesmo essa história, podemos combinar?", e ele, com cara de sério: "Mas é claro, tá me tirando?". Praticamente uma intimação. E ele nem tinha ouvido Numismata ainda. Acho que eu devo essa ao Macalé, né?

Folha Online - Das outras parcerias, tem a da Maria Alcina...
Adalberto - Não importa se você é o Metallica ou se você já está com o público ganho, quando a Alcina entra em cena ela ganha tudo mais ainda. Ela é catalisadora. Anima mais que a Ivete Sangalo. Alcina é uma referência de vitalidade e qualidade artística na música brasileira. Tocamos com ela no Confete e Serpentina e, lógico, fizemos questão que ela participasse do Chorume. Sempre que a gente tem oportunidade, a gente gosta de abrir esse espaço pra todo mundo que a gente admira, é uma forma de respeito, de renovação e, principalemente, de aprendizado! Aprender qualquer coisa com essas feras tem um valor inestimável!

Folha Online - Chorume é um título forte, pelo significado literal da palavra. Como chegaram a ele?
O título do disco já é esse desde o começo. É uma palavra legal, porque é uma palavra comum da língua portuguesa, mas de pouco uso corrente. Então, muita gente pode ouvir e achar que se trata de choro, mesmo, de tristeza. Também tem esse significado da opulência, que é meio a cara do disco, recheado de arranjos e detalhes.Tem essa história de ser também o suprassumo do lixo, o "melhor" do lixo, a parte que se aproveita de alguma forma como combustível. Acho saudável essa conotação irônica, acho que levar muito a sério toda hora é uma coisa nada a ver, sabe?

Crédito: Fernando Angulo/Folha Imagem  legenda: Numismata crédito: Fernando Angulo/Divulgação

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Endereço: r. do Bosque, 1.254, Barra Funda, região oeste, São Paulo, SP. Classif. etária: 18 anos.
As informações estão atualizadas até a data acima. Sugerimos contatar o local para confirmar as informações

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