People Under The Stairs apronta "house party" californiana em SP; leia entrevista

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Thes One e Double K ganharam holofotes no final de 1990 e fazem parte da geração sucessora do clássico grupo The Pharcyde

Nunca fui à Califórnia, mas ela veio até mim no domingo passado. Foi na noite de 25 de outubro que o People Under The Stairs deu a última "house party" em São Paulo, no melhor estilo Los Angeles. Chris Portugal e Michael Turner Jr., o Thes One e o Double K, respectivamente, receberam no Espaço +Soma apreciadores de um rap benfeito e pessoas que queriam simplesmente se divertir com música boa em uma noite hype.

"Existe uma conexão forte entre essa tradição de festa que o Brasil tem e a 'party music' que a gente faz", analisa Thes One em um dos poucos momentos que parou de andar para lá e para cá antes de o show começar. "Estávamos aqui pensando no nome do próximo disco", comenta. Com sete álbuns lançados, o duo aproveitou o barulho que fez com o "Fun DMC", em 2008, para lançar o mais recente, "Carried Away", que saiu neste ano. Em clima de segredo, não quiseram dar detalhes do que vem por aí.

"Ouço o 'Fun DMC' e me imagino passando férias de verão em L.A. Vocês fizeram isso de propósito, não é?", pergunto. "Exatamente! Gravamos tudo como se estivéssemos no quintal de casa, nas festas. O disco é um convite para as pessoas entrarem na nossa 'vibe' e participarem ali do nosso churrasco, ouvirem os amigos conversando e brincando, jogando dominó, os cachorros correndo para todo lado", detalha Double K, como se narrasse o "making of" da "Anotha (BBQ)", uma das faixas mais "Califórnia" do penúltimo trabalho.

E o show foi nessa "vibe". A garoa não impediu grande parte de quem estava lá de sair de casa sem o ingresso de R$ 30 garantido. E lá dentro só fez sol. Como se estivéssemos no quintal do P.U.T.S., festejaram com dancinhas, ensinaram refrões, música nova, registraram a energia na filmadora, subiram na caixa de som, esticaram o pedestal do microfone para ouvir quem estava mais atrás. Tudo isso sem perder o flow (a levada da rima) e o tempo dos beats (base), comandado por Double K no toca-disco. Uma festa.

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A primeira apresentação da dupla no Brasil foi durante a festa Chocolate, no clube Clash, na terça-feira passada (20/10)

A independência e o Brasil

Da leva underground independente, produzem das rimas (o "flow" dos dois é absurdo) aos beats (sem samples gritantes, aos moldes old school) desde o final dos anos 90, quando se conheceram e fizeram "The Next Step" (1998), de onde saiu "San Francisco Knights", a música mais conhecida no Brasil e que mais levantou vozes no Espaço +Soma.

"Ser independente é uma escolha. Temos mais liberdade para fazer o que queremos musicalmente. E a melhor coisa para um artista é ter o controle da própria música, sem ninguém dizendo o que fazer. E vamos continuar levando nosso trabalho desse jeito. A não ser que alguém jogue dois milhões de dólares nas mãos de cada um e nos mandem fazer um álbum sem meter o bedelho em nada", brinca Double K.

A vinda ao país também foi "indie"."Não estamos aqui porque alguém disse 'Hey, People Under The Stairs, vocês precisam vir ao Brasil'. Nós que dissemos: 'precisamos ir ao Brasil'. Felizmente, o +Soma topou que o show fosse aqui. Compramos nossas passagens de avião, bancamos o hotel. Depois desses dez anos visitando tantos países, queríamos vir pra cá, encontrar DJs e MCs e mostrar o que fazemos", orgulha-se Thes One. Enquanto isso, Double K acompanha com a cabeça e com o pé a batucada que vem da quadra da escola de samba Pérola Negra, na rua de trás.

Como manda a tradição dos rappers que vêm ao Brasil, fizeram a rapa nos sebos do centro paulistano."Compramos muito vinil, nem sei dizer quantos. Eu me importei mais com a qualidade de cada um deles do que com a quantidade. E tem a questão do preço. As raridades são caras, porque gente do mundo inteiro coleciona disco brasileiro", conta Thes One, empolgado. "Comprei disco da Rita Lee, de um grupo chamado Medusa e mais alguns", cita Double K. "Eu gosto de rock brasileiro, também de samba, bossa nova, ouço Jobim. Tem uma cantora chamada Tita Lima, que é incrível. Acho que ela é filha de um d'Os Mutantes", completa Thes One.

Do rap nacional, o nome de Marcelo D2 escorrega fácil à ponta da língua de Thes. "Desde que chegamos ao Brasil temos conhecido quem faz rap aqui. Tudo que ouvimos até agora tem nos agradado demais, porque é o tipo de som que gostamos. É um rap que tem a ver com o nosso, não é aquela coisa que você ouve e parece com 50 Cent". A interação com os nossos MCs era visível no show. Double K trocava toques de mão fechada com Caio, do Elo da Corrente, e Kamau fez um freestyle com os caras depois de uma das últimas músicas da noite.

Que venha o Mos Def.

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