O universo dos escritores russos passou a rondar o diretor Felipe Hirsch quando escrevia o roteiro para o longa-metragem "Insolação". Buscava uma história de amor, um daqueles contos da literatura eslava em que aparentemente nada acontece, e foi por esses tortos caminhos que deu com a obra de Victor Shklovsky.
Em "Não sobre o Amor", montagem que estréia nesta sexta-feira (dia 9), no CCBB, Hirsch toma o livro homônimo que reúne a correspondência entre Shklovsky, importante teórico do formalismo russo, e a romancista franco-russa Elsa Triolet. Lá estão cartas de amor, mas o temor do vazio da escritura amorosa e da repetição de palavras viciadas dá à obra uma outra textura.
A relação epistolar é também um lugar para o autor expor seu sentimento de exílio, sua desconfiança da linguagem. "Estou escrevendo cartas para você e, ao mesmo tempo, estou escrevendo um livro. E o que está no livro e o que está na vida ficaram uma confusão incurável", escreve Shklovsky.
Em "Não sobre o Amor", Hirsch volta a alguns de seus temas recorrentes -as relações amorosas, a memória, o ato de criação literária-, mas traz tudo envolto em aura mais delicada.
A peça, que chega a São Paulo ao mesmo tempo em que "O Castelo do Barba-Azul", primeira incursão de Hirsch pela ópera, não carrega os ares hiperbólicos que se tornaram marca registrada das produções da Sutil Companhia de Teatro.
O cenário criado por Daniela Thomas, que acompanha o grupo desde 2001, serve a um espetáculo de câmara, em que apenas dois atores, Leonardo Medeiros e Arieta Corrêa, sobem ao palco. "Queria um formato intimista no qual as pessoas pudessem criar uma relação de proximidade com a obra, sem se preocupar se estavam vendo teatro, literatura ou artes plásticas", diz o diretor.
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