Escolhidos para inaugurar o projeto Vitrine Cultural do teatro Imprensa, os espetáculos de Roberto Alvim ("Comunicação a uma Academia") e Marcelo Lazzaratto ("Eldorado") são uma boa súmula do que deve ser a nova programação do espaço. Com um conjunto de 12 peças selecionadas pelos curadores Kil Abreu e Valmir Santos, o local deve reunir, até o final do ano, parte significativa da produção experimental da cidade.
"Comunicação a uma Academia"
Notável parceria entre o diretor Roberto Alvim e a atriz Juliana Galdino, a cia. Club Noir surgiu com a proposta de montar apenas textos de dramaturgos contemporâneos: após a estreia, em 2007, com um solo do próprio Alvim, lançou-se à criação do norueguês Arne Lygre e ao teatro contundente de Harold Pinter.
Com "Comunicação a uma Academia", peça que entra em cartaz a partir desta terça-feira (3), o grupo se desvia um pouco desse seu pressuposto primeiro para levar à cena um conto de Franz Kafka (1883-1924). Posterior ao célebre "Metamorfose", o texto guarda certa semelhança com o romance e traz a história de um macaco que se transformou em humano.
Diante de uma plateia de acadêmicos e estudiosos, o símio (interpretado por Juliana Galdino) relata como gradativamente abandonou a animalidade quando decidiu imitar os hábitos dos homens que observava através de sua jaula. Com ares de fábula, o conto pode ser lido como metáfora de fenômenos como o colonialismo cultural, conceito tão em voga nesses tempos de globalização.
Na encenação, Alvim torna a investir na aparência asséptica, com o palco quase vazio, sem cenário. Os movimentos mínimos, que fazem com que os atores permaneçam quase imóveis, também voltam à baila. Mas estas soluções, empregadas em trabalhos anteriores da companhia, como "O Quarto", não resultam em simples continuidade de um projeto estilístico.
O que importa e é colocado em primeiro plano é o texto. "Percebemos que, neste caso, manter certas prerrogativas estéticas nos levaria a solapar a obra e seus sentidos", diz o diretor.
"Eldorado"
Em "Eldorado", que estreia nesta quarta-feira (4), o diretor Marcelo Lazzaratto deixa o trabalho que desenvolve à frente da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico e se dedica a um espetáculo solo do ator Eduardo Okamoto.
Ao lado do dramaturgo argentino Santiago Serrano, Okamoto buscou histórias de rabequeiros e artesãos do instrumento para construir a peça, que tenta dar conta de tradições populares e de hábitos caiçaras do litoral paulista.
O material, recolhido durante a pesquisa, embasou a criação do personagem de um cego que empreende uma viagem rumo ao eldorado. Na travessia solitária, sua única companheira de jornada é uma rabeca.
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