Sucesso na Broadway, bonecos de "Avenida Q" falam de gays, loiras e judeus

O que esperar de um espetáculo cheio de bonecos fofos e desenvoltos? Pelo menos em relação ao musical "Avenida Q", quem vai ao teatro em busca de um ambiente infantil e de histórias ingênuas se surpreende logo na primeira canção, quando os personagens dizem em alto e bom som que "estão na merda".

Crédito: Guilherme Paranhos/Divulgação

Sucesso na Broadway, onde recebeu três prêmios Tony, a montagem mantém a sequência de conquistas no Brasil ao ser indicada a cinco prêmios Shell, incluindo melhor direção, melhor ator e melhor atriz.

"É um fato inédito para um musical no país", afirma Claudio Botelho, que dirige a peça junto com seu parceiro artístico Charles Möeller. Em entrevista ao Guia da Folha Online, ele define "Avenida Q" como "uma comédia hilariante, com personagens que você nunca viu pelo buraco da fechadura" e diz que o público "vai tomando um susto atrás do outro por ver bonecos tão 'fofos' soltarem o verbo e 'mandarem ver' contra o politicamente correto".

A peça está em cartaz no teatro Procópio Ferreira (região oeste da cidade de São Paulo), de quinta-feira a domingo, até 1º de novembro. Clique aqui e saiba mais sobre o evento.

Em meio a desavenças, falta de dinheiro, de namorado e de um rumo na vida, eles transformam em música o racismo que existe em cada um de nós e fazem brincadeiras relacionadas a gays, judeus, loiras, negros e portugueses. Já o monstro Trekkie faz questão de convencer a também monstra Kate de que "a internet é pornô", enquanto Gary Coleman, Brian e Japa Neusa --os únicos personagens "humanos"-- brincam com o surgimento das celebridades mirins e com a confusão recorrente sobre a "procedência dos orientais".

Primeiras impressões do público

Crédito: Guilherme Paranhos/Divulgação

Indicada ao Prêmio Shell como melhor atriz, a cantora e bailarina Sabrina Korgut, que na peça interpreta as bonecas Kate Monstra e Lucy de Vassa, diz que "no início da apresentação o público fica meio perdido, sem saber o que pensar e pra quem olhar, até assimilar a peça". Ao Guia da Folha Online, a artista conta que eles conseguem falar de assuntos polêmicos de uma maneira descontraída e que, no final, todos acabam felizes e cantando os refrões. "Pronto, nossa missão está cumprida."

De acordo com o cantor, diretor e roteirista André Dias, que também foi indicado ao Prêmio Shell (na categoria melhor ator), a utilização de bonecos facilita a abordagem de temas tão espinhosos, "que poderiam soar grosseiros se estivessem sendo apresentados por personagens humanos". O intérprete dos bonecos Princeton e Rod conta que a plateia se surpreende constantemente e que esse é o grande trunfo de "Avenida Q". "O público se identifica com os bonecos e se vê retratado nas situações que eles enfrentam."

Exercícios antes do espetáculo

Para conseguir manter o pique e o fôlego durante as duas horas de apresentação (há um intervalo de 15 minutos), os atores precisam tomar alguns cuidados e realizar exercícios de preparação. "Costumo vocalizar uma hora antes do espetáculo, para acordar e preparar as cordas vocais", diz Sabrina, que considera "imprescindível aquecer a voz para enfrentar esta maratona".

Crédito: Guilherme Paranhos/Divulgação

Já André, que estuda canto há 14 anos, também não abre mão de fazer os vocalises durante 15 ou 20 minutos após o aquecimento corporal. "Mais do que a voz, é preciso manter um condicionamento físico constante, que abrange alongamento, capacidade respiratória (aeróbica) e condicionamento muscular." O ator também cita outros cuidados "de atletas" que são necessários: "Dormir e se alimentar muito bem, beber muita água e evitar cigarro e bebidas alcoólicas."

Além de manter a voz 100%, a preparação do corpo é fundamental para a realização do espetáculo, já que os bonecos têm de 200 g a 300 g e estão o tempo todo em cena. "Há uma série de alongamentos e de exercícios de fisioterapia, com faixas elásticas, para evitar lesões musculares", conta André. Ele diz que, no início, sentia muitas dores, mas que o corpo se adaptou às exigências. "Durante os ensaios, houve um período de adaptação no qual sentíamos dores e precisávamos aplicar compressas de gelo por 20 minutos, algumas vezes ao dia", relembra, antes de dizer que hoje em dia é muito raro sentir algum incômodo: "É impressionante a capacidade de adaptação do corpo humano."

Sabrina também afirma que, no começo, o corpo reclamou, mas que agora já está acostumada: "Quando começo a sentir aquela dorzinha, eu penso: 'Estou tonificando meus músculos! Nem pense em desistir agora!'"

O elenco da peça é formado por André Dias, Sabrina Korgut, Claudia Netto, Renato Rabelo, Fred Silveira, Mauricio Xavier, Renata Ricci e Gustavo Klein. A direção fica por conta de Cláudio Botelho e Charles Möeller.

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