Você vai sair do teatro com a sensação de que invenção e verdade podem mesmo andar lado a lado. E que Emílio de Mello e Fernando Eiras sabem muito bem como mostrar a sutileza e a força dos medos e das relações humanas.
Mas... esse seria um bom início para a reportagem? Ou fica melhor começar dizendo que "In on It" foi escrita pelo canadense Daniel McIvor, que já está há um ano em cartaz no Brasil e que acaba de prorrogar a temporada na capital paulista por mais duas semanas?
A intenção da peça é atrair os olhares para a simples e complexa arte de fazer teatro, e é por isso que os atores brincam o tempo todo com a possibilidade de parar, mudar e imaginar novas cenas.
É um jogo constante, e a concentração é fundamental para interligar constantemente as três "camadas" da montagem: enquanto os dois atores encenam trechos de um espetáculo que fala de um homem que descobre estar doente, eles aproveitam para comentar suas próprias interpretações e sugerir novos rumos à história, além de mostrar ao público detalhes da relação que mantêm na "vida real".
Tema profundo e texto fácil
Falar sobre o que se sente quando está próximo da morte ou então da diferença entre quem vive o agora e aquele que deixa tudo para depois pode ser algo denso e cansativo. Mas o texto não provoca só devaneios e lágrimas. É também descontraído, ágil e muito divertido.
Sob a direção de Enrique Diaz, Fernando e Emílio se transformam em dez personagens ao longo de cem minutos, sem a utilização de recurso algum --só precisam de duas cadeiras e um casaco. Em um "clique", um médico e um paciente dão lugar a uma discussão entre marido e mulher, sem esquecer da criança, do idoso e de outros tipos que aparecem na história.
Os atores jogam o tempo todo com a liberdade que o teatro oferece para falar de assuntos como a brevidade da vida. "É invenção ou é verdade? É o que você quiser", diz um trecho da peça.
Em outro momento, é a importância de aproveitar o "presente" que ganha vez. "Se você parar de pensar um pouco, vai se dar conta de que já tem alguma coisa acontecendo."
A peça, traduzida por Daniele Ávila, deixa o teatro Faap (centro de São Paulo) em 11 de abril, com sessões às sextas-feiras, aos sábados e aos domingos.
Comentários
Ver todos os comentários