"Ser conhecido não é garantia de sucesso no teatro", diz Malvino Salvador

Ele espanca a esposa, grita, briga e é superprotegido pela mãe. Este é Jake, personagem vivido pelo ator Malvino Salvador no drama "Mente Mentira", que fica em cartaz até este domingo (31) no teatro Raul Cortez, em São Paulo.

Conhecido nacionalmente por meio das telenovelas, Malvino encara não somente uma atuação firme e complexa, mas também a produção da peça, dirigida por Paulo de Moraes --prêmio Shell de melhor direção por "Toda Nudez Será Castigada".

Escrita pelo norte-americano Sam Shepard, a montagem traz consigo temas delicados, um humor peculiar e referências norte-americanas para contar a história de duas famílias afetadas pela drástica separação de seus filhos. Numa montagem em que a iluminação de Maneco Quinderé costura as ações como em uma trama cinematográfica, os momentos de tensão e romance propõem questionamentos sobre a vida em família.

Ao Guia, Malvino conta quais foram seus maiores desafios e destaca o papel de seus colegas de elenco --formado por Fernanda Machado (seu par romântico), Zecarlos Machado, Malu Valle, Roza Grobman, Keli Freitas, Marcos Martins e Augusto Zacchi--, do diretor e da produção da peça. Leia:

Crédito: Divulgação "Mente Mentira", com Malvino Salvador e Fernanda Machado, deixa o teatro Raul Cortez neste domingo
"Mente Mentira", com Malvino Salvador e Fernanda Machado, deixa o teatro Raul Cortez neste domingo

Guia - Os textos de Sam Shepard costumam lidar com críticas ao modo de vida norte-americano. Quais aspectos de "Mente Mentira" podem ser aplicados ao Brasil?
Malvino Salvador - A mítica norte-americana e seus símbolos não chegam a afugentar o público brasileiro, pois os conhecemos através dos filmes e da própria influência da cultura norte-americana. A bandeira americana, por exemplo, é mantida para que o público daqui possa se contextualizar acerca, até porque não adaptamos a história ambientando-a no Brasil. Mais relevante para o público daqui é o fato de que "Mente Mentira" explora a relação de casal e se aprofunda nos dramas familiares, o que a torna universal.

Guia - Qual o maior desafio que você enfrentou para produzir um texto tão denso?
Malvino Salvador - Conseguir patrocínio foi muito difícil, pois é um texto que vai na contramão do que se tem feito e por isto o risco era maior. Convencer e aproximar para o projeto os profissionais que admirava, os quais todos tinham mais experiência no teatro do que eu, também não foi nada fácil. Acho que o mais importante para o sucesso da peça vem da qualidade do time que formamos. A partir do momento em que o Paulo de Moraes topou realizar a montagem, fiquei com muita confiança de que tudo daria certo.

Guia - O fato de ser um galã conhecido nacionalmente ajuda ou atrapalha?
Malvino Salvador - Ser conhecido não é garantia de sucesso no teatro. Isto não pode ser percebido como um fator isolado. Que tipo de peça, aonde, com quem, em que momento... Tudo isto é relevante. A única vantagem clara é a maior entrada na mídia para divulgar a peça. Demorei cinco anos pra conseguir patrocínio.

Guia - Você já disse que esse é seu personagem mais complexo. Você se submeteu a alguma preparação especial?
Malvino Salvador - Ensaiar no espaço do Armazém Cia. de Teatro já foi diferente de tudo o que estava acostumado. Lá se respira teatro e foi importante para tirar o foco da produção e me concentrar nos ensaios. Tivemos preparação corporal com Patrícia Selonk e preparação vocal com Simone Mazzer. Fizemos um estudo sobre a dramaturgia do Sam Shepard, assistimos aos filmes que ele roteirizou e a alguns que ele atuou, li outras de suas peças... A descoberta da personagem continua a cada apresentação.

Guia - O Jake é bem intempestivo. Quando a peça acaba você ainda sente a tensão do personagem?
Malvino Salvador - Demora um tempo pra me restabelecer. Mas é diferente de sair impregnado pela personagem, como acontece com alguns atores. Quando acaba a peça me desvencilho de qualquer sensação experimentada em cena. Mas a concentração para esta peça é tão grande que saio exausto do espetáculo. Só quando termino de jantar, tenho de volta minhas energias.

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