Veja entrevista com Grace Passô, de "Marcha para Zenturo"

Grace Passô, da companhia mineira Espanca! ("Por Elise" e "Amores Surdos"), atua e assina a dramaturgia de "Marcha para Zenturo". O espetáculo é uma parceria entre a trupe de Belo Horizonte e o Grupo XIX ("Hygiene", "Arrufos"), de São Paulo, e está em cartaz no Centro Cultural São Paulo.

Crédito: Divulgação

Dirigida por Luiz Fernando Marques, do Grupo XIX, a montagem partiu do processo de pesquisa das duas companhias e resultou em uma trama que investiga o sentido do tempo e as relações humanas.

A história retrata cinco amigos que se reúnem para celebrar o Réveillon em uma festa (o presente). Para a comemoração, o grupo convida uma trupe que encena trechos de peças do dramaturgo russo Anton Tchekhov (o passado). Há ainda, lá fora, a tal marcha, uma busca por um lugar desconhecido (o futuro).

Leia a seguir o que Grace diz, em entrevista ao Guia Folha, sobre o processo de estudo e de criação da peça:

Guia Folha - Quando os dois grupos começaram a trabalhar juntos?
Grace Passô - Na verdade, a gente teve uma séria de coincidências. Nós nos encontramos em alguns festivais pelo Brasil. Depois, a gente forjou uma série de residências, tanto em São Paulo quanto em Belo Horizonte. Foram vários projetos de intercâmbio que nos aproximaram e criaram a identidade como um grupo. E existe um desejo dos dois grupos de estar sempre perto de dramaturgias originais.

Guia - Ao mesmo tempo vocês têm propostas investigativas diferentes...
Grace - Sim, bem diferentes. Engraçado, né? Eu acho que o pilar da pesquisa dos dois grupos é muito distinto. O XIX tem uma pesquisa que traz a questão histórica como foco. E acho que o Espanca! até aqui esteve muito ligado à dramaturgia original. Eu escrevi quatro textos do grupo até agora. E existe um diálogo entre atores, diretores, criadores. O XIX usa a dramaturgia como consequência dessa pesquisa histórica. São questões muito diferentes. Acho que o que nos une de forma mais clara é a questão do "autoral".

Guia - Você diz que o processo de criação dos textos do Espanca! vem antes dos ensaios e do trabalho de ator. Neste caso, ele surgiu durante o trabalho. Como foi esse processo?
Grace - Antes de tudo, era uma forma de reinvenção. Tanto o Espanca! quanto o XIX tinham um desejo de abertura mesmo. A gente queria fundir um grupo ao outro. Juntos, escolhemos alguns temas para trabalhar. Depois, a gente partiu para improvisar e, por último, eu parti para o texto. Foi um pouco diferente, mas foi muito rico. Para quem acompanha o trabalho dos dois grupos é muito nítido que existe uma proposta de fusão.

Guia - E de que forma trabalharam o tema tempo?
Grace - Na verdade, a peça fala do nosso tempo presente, da contemporaneidade, do tanto que nos parece estranho, mesmo no nosso tempo, essa vertigem que existe nas relações humanas. Nós colocamos o tempo da peça no futuro, mas é de fato um pretexto para deslocar o olhar do público do convencional.

Guia - Em um momento, atores encenam trechos de peças de Tchekhov. Por que escolheram o autor russo?
Grace - Quando escolhemos o tema, a gente se focou muito no estranho, no absurdo. E percebemos que seria interessante mostrar o natural por meio de uma peça de teatro, como um recurso de metalinguagem mesmo. Foi muito claro por que a gente escolheu o Tchekhov. É um autor que fala do tempo, das relações humanas. Existe, na obra dele, uma perspectiva existencial e o tema gira em torno do tempo.

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