Roteiro seleciona 14 botequins tradicionais na capital paulista

Ao longo dos anos, São Paulo (SP) viu fechar alguns de seus mais autênticos botequins. Diante de sucessivas crises, símbolos da noite paulistana, como os lendários Paribar e Paddock, sucumbiram. Restam, contudo, honrosos sobreviventes que atravessaram os anos e, apesar dos contratempos, permaneceram sempre de portas abertas. Abaixo, o Guia traz uma seleção de 14 bares da capital paulista que, além da longevidade, destacam-se pela tradição e simplicidade. Fora dos bairros da moda e sem ceder às novidades, como fizeram os veteranos Brahma e Pandoro, esses locais podem se orgulhar de ter envelhecido mantendo um compo­nente essencial, o espírito boêmio.

Joan Sehn
Criado em 1937 pelo austríaco Joan Sehn, o bar mais antigo da cidade já passou por muitas reformas, foi ampliado, ganhou muitas mesas e não tem um ambiente propriamente aconchegante. A paisagem ao redor também mudou bastante e há muito a linha de bonde que passava quase na porta, a cami­nho de Santo Amaro, foi desativada. As atrações desse autêntico botequim germano-paulistano, no entanto, continuam intocadas e garantem a longevidade da casa. Uma serpentina européia deixa o chope, servido com colarinho generoso, sempre gelado. Pratos alemães compõem o cardápio, mas a clientela fiel, formada essencialmente por famílias do bairro, prefere as fartas tábuas de frios (R$ 38,90, para duas pessoas). À vista dos freqüentadores, queijos, salames e toda sorte de embutidos são cortados na hora, e chegam acompanhados por um crocante pão italiano.
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Crédito: Felipe Russo/Folha Imagem
Bar Léo serve cerca de 2.000 chopes aos sábados em São Paulo

Bar Léo
Pequeno, o salão só tem espaço para 17 mesas, mas os clientes não se acanham e geralmente ocupam toda a esquina da rua Aurora com a rua dos Andradas para provar o cremoso chope que fez a fama da casa. Criado em 1940, com o nome de Paulo Alemão, o bar de aura germânica só passou a se chamar Léo nos anos 60, quando Hermes de Rosa assumiu o negócio e resolveu homena­gear o antigo proprietário, Leopoldo Urban.
No centro do balcão, uma bela chopeira branca é comandada há quase 20 anos por Joaquim Fernando Lopes. Além da temperatura ideal, alguns detalhes fazem a diferença. O alto consumo, cerca de 2.000 chopes aos sábados, garante que a bebida esteja sempre fresca. Além disso, os copos são lavados com um sabão especial, importado da Alemanha. "O detergente comum gruda no copo e não deixa formar o creme", revela o gerente Waldemar Pinto. Para acompanhar, fique com os bolinhos de bacalhau (R$ 4,50), servidos às quartas e aos sábados.
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A Juriti
O endereço simples e sem luxos guarda um dos mais autênticos botequins da cidade. Em uma travessa da av. Lins de Vasconcelos, a clientela fiel se acomoda desde 1957 no balcão de aço inox para encontrar os amigos e tomar uma cerveja gelada. Não falta quem queira rebater o pedido com a inspirada batida da casa (amendoim com licor de cacau, por R$ 6) e alguns dos inúmeros acepipes. São tantas e variadas as opções, que o bar não tardou a receber a alcunha de "A Rainha dos Aperitivos". Entre as estrelas da gastronomia popular, desponta a calabresa Joana d'Arc (preparada em fogareiro à álcool, por R$ 14).
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Dois Irmãos
Ainda nos anos 1920, um gerente da Brahma comprou uma vendinha só para ter um lugar para beber com os amigos, longe das broncas da mulher. Em 1958, os irmãos portugueses José e Manuel de Souza Dias assumiram o negócio e o transformaram no Dois Irmãos, bar que mantém a chopeira mais antiga da cidade. Quase meio século depois, cinco amigos adquiriram o lugar, em 2004. Apesar da reforma, o antigo espírito foi mantido. A estrela ainda é o chope, servido numa longa tulipa, mas o cardápio, que na época dos irmãos se resumia a pouco mais que tremoço e amendoim, hoje oferece sugestões como a porção de pernil (R$ 14).
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Elídio Bar
Anos de serviços prestados à boemia paulistana transformaram o bar em um símbolo tão importante quanto o próprio Juventus, tradicional time do mesmo bairro. O futebol, aliás, está na alma da casa, comandada por "seu" Elídio desde 1959. Espalhadas pelas paredes, fotos e camisas de clubes ainda dão o tom da decoração do local, que reabriu recentemente após uma reforma. O "banho de loja", que levou mesas ao piso superior e facilitou a ligação entre o salão principal e o afamado balcão de acepipes, comprometeu um pouco a autenticidade do boteco. Mas a simpatia do proprietárioseu irretocável cardápio e o célebre caju amigo (R$ 15) mantêm a fama do lugar.
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Bar do Luiz Nozoie
Comandado por Luiz Nozoie e família desde 1962, o botequim é um autêntico pé-sujo, cheio de personalidade. No ambiente extremamente simples, tira-gostos e batidas devem ser pedidos no balcão nada de cardápios. A filha Márcia prepara com perfeição os rissoles de camarão (R$ 1,70), receita herdada da mãe, dona Shizue. Apaixonado por pesca, o próprio Nozoie se encarrega de trazer, quando pode, alguns in­gredientes para os espetinhos e tempuras preparados no bar. Já a cerveja, armazenada numa folclórica geladeira de sorvete, sai de lá geladíssima graças a uma mistura de água e sal grosso a 20 graus negativos.
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Valadares
Algum desatento poderia julgar estar diante de um boteco como tantos outros: mesas espalhadas nas calçadas, um ruidoso salão azulejado e um velho freezer, encostado perto do balcão, de onde as cervejas saem, uma atrás da outra. De fato, o que torna este bar da Lapa, aberto em 1962, único na cidade não é a decoração, mas os exóticos itens de seu cardápio. Para fazer companhia aos incontáveis sabores de batida, porções de frutos do mar dividem espaço com raridades, como testículos de galo empanados (R$ 19,90), codornas (R$ 8,50) e jiló frito (R$ 7,90).
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Amigo Leal
O toque germânico da decoração remete inevitavelmente ao Bar Léo, primeira casa do alemão Leopoldo Urban, na rua Aurora. Aberto em 1964, ainda com o nome de Amigo Léo, o botequim sempre recebe os clientes com um prato de canapés, uma dose de steinhegen e o chope de colarinho alto e cremoso. Para comer, fique com o pastel de bacalhau.
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Bar Barão
Criada em 1968, também por Leopoldo Urban, o mesmo fundador do Léo, a casa fica perto do burburinho da rua 25 de Março, mas lá tudo parece passar devagar. Penduradas nas paredes, há dezenas de canecas de louça, cada uma trazida por um freguês e com uma história particular. O chope de largo colarinho é servido com pratos alemães ou canapés, entre eles, o Blumenau, de lingüiça moída.
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Bar do Alemão
Ainda hoje, o cremoso chope e os petiscos de acento germânico, como as porções de salsichão (R$ 18), são apenas coadjuvantes, pretextos para ficar mais um pouco nas nostálgicas rodas de choro do bar, que ocorrem às quintas. Tão logo abriu as portas, em 1968, o local se tornou ponto de encontro de intelectuais, jornalistas e toda uma geração de sambistas, como Nelson Cavaquinho e Paulo Vazolini. Na capa de seu primeiro disco, gravado em 1973, Eduardo Gudin aparece em uma mesa do bar, acompanhado por Toquinho e João Bosco. Passados 30 anos, alguns arranjos do destino levaram o músico a assumir a direção da casa.
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Jabuti
Apesar de estar na esquina da rua Joaquim Távora, o Jabuti destoa dos bares arrumadinhos que se concentram na mesma quadra. O proprietário, "seu" Figueiredo, é o mesmo desde a abertura, em 1967. Assumiu a antiga vendinha após se desfazer de seu estabelecimento anterior, o bar A Juriti. Trajados de jaleco vermelho, garçons experientes servem os petiscos do mar, que ficam dispostos em um longo balcão envidraçado no fundo do salão. Entre as especialidades da casa, estão a porção de polvo (R$ 48) e o bolinho de bacalhau (R$ 3,50).
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Bar do Luiz Fernandes
Enfileiradas no exíguo balcão, antigas garrafinhas de leite Paulista guardam as batidas caseiras e disputam o espaço com queijos e conservas. Lotado dia e noite, este modesto bar de Santana é comandado por Luiz Fernandes desde 1970.
O negócio começou pequeno, mas não tardou para que as mesas na calçada não dessem mais conta de acomodar os fregueses, e o dono tivesse que expandir os domínios para a casa vizinha. Além da cortesia no atendimento e da cerveja sempre gelada, o motivo de tanta fama vem da cozi­nha, onde dona Idalina, mulher de "seu" Luiz, cuida do preparo de quitutes sem par, como o bolinho de bacalhau e o de carne.
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Crédito: Beatriz Toledo/Folha Imagem
Frangó tem a melhor carta de cervejas da cidade com 250 rótulos

Frangó
A casa de 1894 no largo da Matriz, na Freguesia do Ó, abriga o bar desde a sua fundação, em 1986, quando era apenas uma rotisseria comandada por Valdeci (pai) e Cássio (filho) Piccolo. Cinco anos depois, Norberto de Oliveira Neto, boêmio freqüentador do Elídio, juntou-se à sociedade e alavancou a transformação do espaço. O começo difícil, quando os três se revezavam no atendimento e não tinham garçons, ficou para trás. Hoje, o Frangó é reduto dos amantes da cerveja, com a melhor carta da cidade: 250 rótulos de 18 países, com destaque para as belgas. Para comer, a imbatível coxinha de frango com Catupiry e o frango grelhado.
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Bar do Giba
Ainda que não figure entre os mais antigos da cidade, uma aura de nostalgia toma este bar, decorado com fotos de sambistas e referências ao Santos, time do proprietário Gilberto Tiburius. A profusão de latas de azeite e garrafas de cachaça ajuda a compor o cenário, que não se assemelha a nenhum dos novos "botecos chiques" e lembra um velho armazém. Ex-bancário, Giba abriu o negócio em 1987 e logo ganhou fama pelos pastéis,especialmente o de camarão (R$ 2,45). Para acompanhar a cerveja de garrafa, há outras porções, como a de carne-seca com mandioca (R$ 32,80), que aparecem listadas em tabuletas que cumprem a função de cardápio.
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