Guia entrevista curador Eric Corne, de exposição no Masp; leia

No sábado (16), o Masp abre a mostra "Arte na França 1860-1960: O Realismo", que integra o Ano da França no Brasil. Em entrevista ao Guia, por e-mail, o curador Eric Corne fala sobre a exposição.

Folha- O que motivou a escolha do realismo como tema para a exposição?
Eric Corne- O realismo, em suas diferentes interpretações, é um fio condutor que determina uma permanência da arte na França por um século.

Folha- E como se deu a seleção do período?
Corne- A exposição propõe um percurso através de um século de pintura francesa e começa com a declaração de Gustave Courbet sobre o realismo, com o objetivo de realizar uma arte vivaz. O realismo busca uma semelhança com o real, uma coincidência entre um pensamento social e uma imersão física no mundo. Mas esta noção de realismo na pintura (assim como na literatura) está sempre em constante reinterpretação segundo as épocas, não possui qualquer permanência estilística ou teórica.
De 1860 a 1960, movimentos de vanguarda se sucederam e, ainda que suas formas artísticas pareçam contraditórias à primeira vista, a noção de realismo que esta exposição propõe permite uma coerência entre as diferentes formas de arte na França.
Uma outra questão é que, a partir de 1860, a pintura começa um diálogo com a fotografia. Courbet dizia "O mundo vem ao meu ateliê". Isso era possível, entre outras coisas, pelo uso da fotografia pelos pintores. Também é importante notar que os dois meios não estão em oposição. Ao contrário, a fotografia abre outras realidades à pintura.

Folha- Como o conceito de realismo se insere nos diferentes movimentos artísticos que surgiram entre 1860 e 1960?
Corne- Os impressionistas se aproximam do tema com a pintura ao ar livre. É a imaterialidade da luz que determina o realismo em relação ao sujeito. No que diz respeito a Léger, o realismo se liberta de qualquer valor imitativo e se resume em linhas, formas e cores. Movimentos como o surrealismo, o novo realismo e o hiper-realismo não estão muito distantes. Eles deslocam a relação com o objeto e fazem experimentos em torno da distância entre as coisas e as imagens. Entre os anos 1930 e 1950, no Brasil, o realismo é também emancipação da supremacia europeia. Os pintores realistas e modernistas traçam um território que se torna universal.

Folha- Como se deu a seleção das obras?
Corne- Em primeiro lugar, há a reunião de duas coleções: a do Masp, com seu acervo extraordinário da arte francesa do período 1860-1920, e a coleção do Museu Berardo, de Lisboa, com seu acervo de surrealismo, realismo dos anos 1930, novo realismo e figuração narrativa. Completei a seleção com obras cedidas por instituições e coleções particulares francesas (Museu d'Orsay, Orangerie, Centro Pompidou, etc.) e brasileiras (Museu de Arte do Rio Grande do Sul e Museu Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro, entre outros), buscando um percurso lógico, histórico e sensível.
Há outras duas seções complementares: a pintura realista brasileira, em sua aproximação e ruptura com a arte francesa e, de modo geral, europeia; e a pintura contemporânea francesa, colocada com o fim de mostrar as continuidades e rupturas na pintura que se desenvolvem hoje, com suas referências internacionais.

Folha- Há um fio temático ou estético que percorre a mostra?
Corne- O fio condutor é a questão da representação, a distância do objeto e, finalmente, a permanência e a continuidade da pintura com sua história, com sua capacidade de renovação como forma de representação dos seres e das coisas do mundo.

Folha- Então não há uma unidade temática?
Corne- Não. Trabalhamos com três motivos: retratos, nus e paisagens, em constante releitura.

Folha- De que forma a arte brasileira se integra à proposta?
Corne- Os artistas brasileiros estão inseridos no percurso da exposição, por vezes frente a seus contemporâneos franceses. Dessa forma, coloquei um retrato de Portinari ao lado de um de Giacometti. Assim, unidade e ruptura são bem perceptíveis. O Brasil é rico de exemplos de realismo. A maior parte dos realistas brasileiros que se alinhavam aos modernistas procurava uma identidade nacional através de uma abordagem mais concreta da realidade brasileira, sem, contudo, negligenciar a necessidade do universalismo e da criação de vanguarda. Na pintura realista, reconhecem-se diferentes influências europeias, em conformidade com os estudos e viagens que os artistas fariam nos anos 1920 e 1930.

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Endereço: av. Paulista, 1.578, Bela Vista, região central, São Paulo, SP. Classificação etária: livre.
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