Ícones da pop art brasileira dialogam com mostra de Andy Warhol

Crédito: Divulgação
"Guevara Vivo ou Morto", de Tozzi, foi atacada no Salão de Arte Contemporânea

Na época em que Andy Warhol criava suas famosas serigrafias das sopas Campbell's, Marcello Nitsche e Claudio Tozzi eram jovens artistas no Brasil da ditadura política. Representantes da pop art nacional, a dupla estreia uma exposição no Espaço Cultural Citi (centro da cidade de São Paulo) na próxima segunda-feira (29), poucos dias depois de Andy Warhol, Mr. America" chegar à Estação Pinacoteca. E a simultaneidade é proposital: "Nitsche e Tozzi: a Pop Art Brasileira" pretende dialogar com as obras do ícone norte-americano.

Escolhidas pelo curador e crítico Jacob Klintowitz, as 17 peças de Nitsche e as 17 de Tozzi representam a estética da pop art brasileira, que, conceitualmente, tem pouco ou nada a ver com a americana. "A pop art americana tinha muita técnica e a qualidade do material era muito boa. No Brasil, a gente pegava material do borracheiro, era uma coisa mais popular", conta Nitsche. "Lembro quando [Robert] Rauschenberg, um cara tão importante quanto Warhol, veio participar da Bienal de 1967 e eu lhe perguntei sobre o que lhe encantava mais na arte brasileira. E ele disse: 'a precariedade'".

E essa precariedade tinha também um motivo conceitual. Enquanto os Estados Unidos viviam o pós-guerra, no Brasil eram tempos de ditadura. "Aqui se usou muito a arte com elementos comuns para denunciar a tortura, a violência. Era tudo meio voltado para a política, contra a repressão. Nem sei se isso deveria ser chamado de pop art", conclui Nitsche.

Assim como a pop art refletia observações atentas acerca do cotidiano e do banal, Nitsche e Tozzi criaram seus respectivos universos na cena. O primeiro brincava de reinventar a infância, criando trabalhos lúdicos a partir de respingos de tinta e pinceladas com falhas sobre placas rígidas. Desse método, saíram obras como o rádio que se transforma em bicicleta, como um brinquedo desmontado por uma criança --algo assim, sem muita explicação. Tozzi partiu para o factual e representou, por exemplo, personagens que impregnavam o noticiário em suas telas, como "Bandido da Luz Vermelha" e "Astronauta". Destaque do acervo, a pintura "Guevara Vivo ou Morto" foi restaurada pelo artista depois de ter sido atacada a machadadas por um grupo radical de extrema direita, durante o Salão Nacional de Arte Contemporânea, em 1967.

A mostra --realizada pelo Citi, também patrocinador de "Andy Warhol, Mr. America"-- fica em cartaz até 21 de maio e a visitação é gratuita.

Informações sobre eventos gratuitos e populares podem ser consultadas no site Catraca Livre.

Espaço Cultural Citi - térreo - av. Paulista, 1.111, Bela Vista, centro, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/4009-3000. Seg. a sex.: 9h às 19h. Sáb, dom. e feriado: 10h às 17h. Grátis. Classificação etária: livre. Acesso a deficientes pela al. Santos, 1.146.

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