Andy Warhol traveste império americano em arte pop

Crédito: The Andy Warhol Foundation for the Visual

Andy Warhol (1928-1987) queria ser um ícone. Excêntrico, exibicionista, gay e sensível aos fenômenos políticos e sociais de sua época, criou seus próprios padrões de arte para materializar e registrar seus pensamentos, desejos, compulsões. Hoje, mais de 20 anos após sua morte, Warhol é o símbolo máximo da arte pop e, sem querer querendo, crítico da política norte-americana do pós-guerra.

E é essa faceta política do artista que a exposição "Andy Warhol, Mr. America", que estreia no sábado (20), na Estação Pinacoteca (zona central da cidade de São Paulo), explora. "Da mesma forma que o império americano se consolidava por meio da manipulação de própria imagem do país, Warhol construía seu império artístico. Ele é o mister America", compara Philip Larratt-Smith, curador da maior mostra do artista que já passou pela América Latina --são mais de 160 obras e mais de 40 vídeos.

Personalidades políticas como Ronald Reagan, ator e 40º presidente dos Estados Unidos, aparecem entre as obras. Pouco conhecida, a série de fotos que mostra Reagan em atividade política revela um dos olhares certeiros de Warhol sobre a América. "Ele acreditava que políticos e atores resumissem o modo de vida americano. De fato, nos EUA o 'show business' é uma forma de política e a política é uma forma de 'show business'", comenta Larratt-Smith.

Segundo o curador, se Warhol estivesse vivo, Obama provavelmente seria alvo de sua arte. "A campanha presidencial que ele construiu foi algo impressionante e se encaixa exatamente na concepção da manipulação da imagem, uma imagem que funciona como produto. Se você for analisar, o governo de Obama é algo mediano, ele não tem feito nada demais, nada tão gigante como foi o estardalhaço de sua campanha", analisa.

As fórmulas políticas se repetem sem fim, assim como a série das sopas Campbell's, que poderia ocupar mais e mais paredes com mais e mais latas de diversos sabores. Na época da depressão, em 1930, a mãe de Warhol costumava servir esse tipo de alimento no almoço. E graças a essa sua origem mais simples, o artista reparava em produtos de consumo banais. "Essa série é a representação máxima de que os ricos consumiam as mesmas coisas que os pobres".

A exposição da imagem

Ver de perto a famosa série de Marilyn Monroe e assistir aos "Screen Tests" (os vídeos de cinco minutos que mostram rostos de gente como Bob Dylan) realmente emocionam. Visionário, Warhol registrou o início de uma era de exibicionismo da própria imagem --que eclodiu em sites como Orkut e Twitter e programas de TV como o "Big Brother".

"Warhol usava pessoas para falar por ele", diz Larratt-Smith. A vontade de se tornar celebridade o fazia querer se cercar delas. E, de fato, conseguia. Muitas frequentavam a "Factory", seu estúdio em Nova York, onde ele gravou os "Screen Tests" e outras produções audiovisuais presentes na mostra. Na mesma sala onde estão os vídeos curtos, encontram-se também os autorretratos do artista travestido de drag queen. "Assim era a América, um império travestido, que insistia em ser o que não era".

Informe-se sobre o evento

Crédito: The Andy Warhol Foundation for the Visual legenda:: Autorretrato de Andy Warhol travestido crédito: The Andy Warhol Foundation for the Visual

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais