Dono do Obá discorda da divisão da RW entre "ricos e pobres"

Crédito: Divulgação
O mexicano Hugo Delgado, dono do restaurante Obá

Hugo Delgado, 42, dono do restaurante Obá, é um entusiasta da Restaurant Week. Participa desde a primeira edição paulista no almoço e no jantar, vê o evento como uma grande ideia e acredita que, com criatividade, as casas podem fazer um bom menu sem ter prejuízo com o baixo preço que é cobrado (R$ 29,90, de dia, e R$ 39,90, à noite).

No Brasil há 12 anos, o mexicano afirma que, mesmo perdendo cerca de 20% a 30% no valor médio pago por cliente, o caixa é compensado pela quantidade de gente que abarrota o restaurante durante a temporada. "Meu volume quase triplica. (...) Eu só tenho de preparar minha equipe, abrir a porta e a casa lota", conta ele.

Apesar disso, Delgado acha que o evento ainda pode melhorar. Sugere que haja uma curadoria para escolher os participantes, para ter "de certa maneira um controle de qualidade".

Para esta oitava edição, o Obá preparou pratos como o "geng gai ma-now" (curry laranja thai de frango com limões e folhas de limão kaffir; acompanha arroz), no almoço, e a moqueca capixaba de peixe servida com arroz, farinha e pirão, no jantar.

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Folha - Dono de um restaurante veterano na Restaurant Week, como enxerga o evento?
Hugo Delgado - Essa ideia de juntar restaurantes e ter um preço para motivar os clientes a visitá-los é uma grande ideia. É um conceito muito claro para o cliente entender e muito fácil para os restaurantes executarem. A gente tem um monte de festivais por aí, com mil formatos diferentes, mas que muitas vezes é difícil para o cliente entender. A Restaurant Week é super clara: todos os restaurantes com um mesmo preço, valendo para entrada, prato e sobremesa. É tão fácil que virou febre. Gera muito movimento. Você paga uma taxa à organização que inclui as fotos. Eu só tenho de preparar minha equipe, abrir a porta e a casa lota.

Você acha que poderia haver faixas de preço diferentes para restaurantes mais caros e mais baratos?
Eu sou contra. As pessoas querem comparar a Restaurant Week daqui com a de Nova York, mas lá o evento ocorre há mais de 20 anos. Aqui não dá para ser assim. Lá em Nova York, mesmo com preço de US$ 20, havia grandes restaurantes. Acho que não é lugar para D.O.M. e Fasano participarem, mas dá para ter outros, de tíquete médio alto, como Pomodori. Eu sou a favor que haja restaurantes como esses, mas que tenham mesas limitadas. Prefiro que seja assim a criar um preço para os primos ricos e um preço para os primos pobres. A grande ideia do evento é que ele é democratizador.

E como você prepara o menu de modo a não ter prejuízos?
Em termos de ganhos financeiros, quero deixar claríssimo que para o Obá é muito bom. Se você é criativo, correto, inteligente para montar o menu, funciona muito bem. Talvez meu tíquete médio possa cair de 20% a 30%, que é muito. Vai de R$ 70 para R$ 55. Mas meu volume quase triplica. Se você analisa essa equação, faz as coisas com carinho, um cardápio gostoso, com produtos bem escolhidos, dá para fazer de forma que não seja boa só para o cliente, mas também para o restaurante, e você ganha dinheiro. Além disso, tem outros benefícios muito grandes.

Quais?
Primeiro, exposição na mídia. Durante o evento, uma cidade que tem 5.000 restaurantes vira uma cidade com 200 restaurantes. Todos os clientes estão focados nesses 200. A rádio, a TV, a internet, o jornal, todo mundo só pensa nesses 200. Ser partícipe desse grupo é uma exposição maravilhosa. Eu não pago nenhuma propaganda, só pago a taxa para participar do evento. E isso gera um movimento promocional, de muita gente que vem para conhecer a casa.

Muitas pessoas voltam?
Não, mas mesmo se ninguém voltasse esse benefício financeiro durante os 14 dias já foi ótimo para mim.

Como você analisa o evento ao longo dessas oito edições?
Em geral, tem mudado para melhor, cada vez o evento está mais profissional e bem organizado e cada vez mais o público tem mais experiência de como funciona o evento. Tem menos estresse com reserva, com fila, quem não gostou não volta, quem gostou continua indo. Há críticas sobre os menus, mas as pessoas têm de entender que são 200 restaurantes que representam a realidade de São Paulo. Não são 200 maravilhosos. É como mostra de cinema, é impossível tudo agradar todo mundo.

Houve uma evolução em relação aos menus?
Acho que os menus melhoraram muito e foi uma longa batalha. Antes havia restaurante francês servindo salada de folhas, espaguete com molho de tomate e creme de papaia. O cliente que vai no restaurante francês espera comer uma comida francesa. Hoje isso mudou, o cliente não é bobo, e muitos restaurantes aprenderam com isso. Porque o restaurante deve mostrar o conceito de sua cozinha. No início, os organizadores tinham que convencer os restaurantes a entrar, agora eles é que pedem por isso. A gente não quer passar de 200 e há uma longa fila. Agora, a organização pode peneirar e tirar os piores.

O que acha que ainda pode melhorar?
Eu queria que houvesse uma curadoria, que fosse independente da Restaurant Week, não necessariamente para avaliar o serviço durante o evento, mas para tentar selecionar melhor as casas. Para convidar restaurantes de modo a ter uma mostra mais interessante da cidade e, de certa maneira, um controle de qualidade. Até agora, acho que o evento foi muito marcado pelo comercial. Acho que isso pode evoluir.

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