Atriz de "Ciranda" vive executiva em guerra com a mãe; leia entrevista

Crédito: Bernardo Doral

Uma executiva de 33 anos que não suporta o jeito largadão e descontraído de sua mãe. Essa é uma das personagens que Daniela Galli interpreta em "Ciranda", peça que mistura drama e comédia para mostrar a relação conturbada entre mãe, filha e neta.

Em cartaz no teatro Renaissance (zona oeste de São Paulo) até 22 de janeiro, a montagem --com texto de Célia Forte e direção de José Possi Neto-- propõe a seguinte reflexão: por que a gente costuma não dar a mínima atenção ao que realmente importa, ao que nos faria feliz?

"Vivemos numa sociedade que valoriza a rapidez e a imagem, e se esquece do simples, do essencial, daquilo que se constrói com o tempo", diz Daniela, que na segunda parte da apresentação retorna ao palco como a "neta". "As três personagens erram, manipulam e têm seus momentos de cegueira, assim como todos nós."

Abaixo, leia mais sobre o que a atriz --que divide o palco com Tânia Bondezan-- acha dos temas abordados em "Ciranda", que "fala da importância do amor, da gentileza, da delicadeza e da aceitação das diferenças".

Após o fim da temporada, Daniela Galli inicia as gravações da nova novela da Record, de Lauro César Muniz. Sua personagem será Antonia, uma psicanalista com um lado bem obscuro, que mantém uma relação manipuladora com a irmã mais nova.

Informe-se sobre a peça

Crédito: João Caldas/Divulgação Atrizes Tania Bondezan (direita) e Daniela Galli(esquerda)são mãe e filha na peça Ciranda


LEIA ENTREVISTA COM DANIELA GALLI:

Guia Folha - O que te encantou no texto, que te fez querer fazer a peça?
Daniela Galli - Foi a abordagem das relações humanas, em especial entre mãe e filha, de maneira profunda e complexa, mas acessível e passível de identificação por qualquer tipo de público. O texto da Célia apresenta situações extremamente dramáticas sem deixar de fazer uso de um humor irônico que funciona como um trampolim das profundezas à superfície, e vice-versa.

Tive vontade de fazer a peça por vários motivos, mas, especialmente, pelo exercício de inversão que ela oferece às atrizes: a interpretação de duas personagens muito distintas ideologicamente. Precisei buscar argumentos para justificar ambas as posições honestamente, vivenciando a relatividade de tudo na vida. Gosto do aprendizado que meu trabalho oferece. Geralmente busco a riqueza da expressão de forma econômica e minimalista, mas a lente de aumento proposta pelo texto me permitiu explorar outro universo: o alegórico e simbólico, quase cartunesco, mas nem por isso menos verdadeiro.

"Ciranda" fala da importância do amor, da gentileza, da delicadeza, da aceitação das diferenças... fala do tempo que perdemos tentando provar que estamos certos, deixando de ouvir o outro e de estabelecer uma troca genuína, frutificante. São valores que eu quero cultivar cada vez mais.

Você acha que a maioria das pessoas vive sem prestar atenção no que realmente importa, como sugere o espetáculo?
Temos a necessidade de nos lembrar constantemente do que realmente importa. Vivemos numa sociedade que valoriza o racional, a rapidez, a eficácia, o imediato, a imagem, e se esquece do simples, do essencial e daquilo que se constrói com tempo. É muito fácil perder-se no dia a dia e não enxergar o que o acaso nos apresenta. Eu prezo muito o desenvolvimento intelectual, mas acredito também na inteligência emocional e espiritual. Valorizo a intuição e o espaço necessário para estar sensível ao novo e aos sinais que a vida nos dá. "O hábito é um grande entorpecente", já disse uma das personagens de Beckett.

Em "Ciranda", as três personagens erram, manipulam e tem seus momentos de cegueira, assim como todos nós. Não só a Boina [nome de sua personagem] se esquece do essencial... a Lena [que interpreta sua mãe], pregando suas verdades, também deixa de olhar para a filha e entender a origem de seu comportamento. Quando insistimos muito numa mesma tecla, a vida se encarrega de nos mostrar outras possibilidades.

O que você acha que muda em quem assiste ao espetáculo?
No caso de "Ciranda", a percepção da inexistência de uma verdade absoluta, da relatividade da vida e do tempo precioso que às vezes perdemos com o que não tem importância talvez seja o que mais dialoga com o público. E isso se estende não apenas às relações de âmbito familiar --basta lembrarmos dos inúmeros conflitos que hoje mapeiam as civilizações ocidental e oriental em nome de ideologias absolutistas.

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