Marisa Orth deixa a comédia de lado e encarna Simone de Beauvoir

Na coletiva de imprensa da peça "O Inferno Sou Eu", que aconteceu nesta sexta-feira (15) em São Paulo, a protagonista Marisa Orth alertou: "Se alguém achar que vai encontrar a Magda no palco, não vai gostar". A atriz, que conquistou audiências com a personagem da extinta série da Rede Globo "Sai de Baixo", abraça, no espetáculo, o papel da escritora Simone de Beauvoir. "Em termos teatrais, a Simone vai grudar na Marisa como a Magda grudou. São duas mulheres-vulcão", esclareceu o diretor José Rubens Siqueira.

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Paula Wenfeld e Marisa Orth conduzem a peça "O Inferno Sou Eu", que estreia em São Paulo

Essa erupção poderá ser vista a partir da próxima sexta-feira (22), quando a montagem estreia no teatro Jaraguá (região central de São Paulo). O enredo é focado na viagem verídica do casal de filósofos Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre pelo Brasil, nos anos 60. No Recife, a escritora contrai tifo e fica hospedada na casa de Marta, por quem Sartre se apaixona. Ali, conhece Dorinha --e aí entra a parte ficcional--, jovem estudante de Letras, fã de Beauvoir, com quem trava um transformador encontro.

Juliana Rosenthal K. levou quatro anos para construir o texto. Foi necessário que se afundasse em leituras da escritora e sobre ela para "achar a minha Simone, a história que eu queria contar". Com a dramaturgia completa, Marisa Orth se interessou pelo papel e, quando leu o texto pela primeira vez, chorou. Uma leitura no projeto Letras em Cena, do Masp, selou o início do trabalho e o convite ao diretor José Rubens --único homem ao lado das sete mulheres envolvidas na peça--, com quem Marisa trabalhou no início da carreira e que, segundo ela, lhe ensinou a arte dramática --"ele me fez atriz", conta.

O que Simone nos deixou

Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir ficaram encantados pelo Brasil. Passaram pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco, visitaram Brasília, conheceram o candomblé e foram até a Amazônia --tudo sob tutela de Jorge Amado e Zélia Gattai. Quando contraiu tifo, Simone foi obrigada a se hospedar na casa de Marta, uma vez que os hotéis não aceitavam hóspedes doentes. Sofreu os calores da doença em meio ao verão nordestino e ainda a ausência de notícias de seu amante.

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No espetáculo, Marisa Orth encarna a escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir

Diante de todas as complexidades que envolvem a biografia da escritora e sua estada no Brasil, Marisa conta que preferiu se ater ao texto de Juliana, e não se basear diretamente em Simone. Assim, garante, "a peça é suficientemente eloquente para que a pessoa não precise ler uma biografia antes de assistir ao espetáculo".

Tampouco Juliana tenta derramar a história de Simone nos 50 minutos de encenação. "Minha peça é sobre o que Simone nos deixou, e o que vamos fazer com isso", esclarece. "Simone levantou questões que ainda não foram resolvidas: caso ou compro uma bicicleta? Tenho filhos ou trabalho? Sou fiel ou não?", define Marisa. A atriz completa: "Quem conseguir resolver merece um prêmio Nobel --da paz, da medicina, da literatura, tudo junto".

Teatro Jaraguá - r. Martins Fontes, 71, Bela Vista, região central, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/3255-4380. De 22/1 a 25/4. Sex.: 21h30. Sáb.: 21h. Dom.: 19h. Ingr.: até R$ 80. Não recomendado para menores de 12 anos.

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