Sokúrov mostra imperador japonês alienado

Além de ser um mestre em produzir texturas com película ou câmera digital, o diretor russo Aleksandr Sokúrov também é um exímio produtor de personagens, sejam eles históricos ou não. Foi assim com o doente Lênin e o louco Stalin, em "Taurus"; foi assim também com Hitler, em "Moloch". E até com o divertido "guia" do museu Hermitage, em "Arca Russa".

Agora, em "O Sol", Sokúrov repete a linguagem ferina (ou um refinado humor negro) dando carne e osso ao "divino" imperador Hiroito, aquele que se rendeu aos Aliados na 2ª Guerra.

Sem piedade, Sokúrov apresenta o imperador japonês como um demente. E com certa razão. O personagem é vestido de forma integral por Issey Ogata. È balbuciante, limítrofe, inseguro. "Ele parece uma criança", dirá surpreso o general Douglas McArthur (Robert Dawson), a grande autoridade aliada na rendição. Obviamente ele estava lá para fazer política -desde que o inimigo ficasse de cócoras.

Desde o princípio, o general norte-americano percebe que não está diante de "sol" nenhum. Aliás, nem diante de um homem. Está diante de uma caricatura. Imerso em poder e glória, Hiroito gabava-se de que podia se comunicar em seis línguas, mas seu senso de realidade tinha lapsos equivalentes aos de um bovino. Só que perigoso: cercado por fâmulos de um lado, e militares sanguinários e obedientes de outro, deu no que todos sabem.

A importância do papel real de McArthur permite ao diretor fugir do maniqueísmo cinematográfico tradicional, ou da história ccorrente. O filme questiona, afinal, os dois lados da "besta".

A uma certa altura surge a pergunta: se ninguém é "o sol", então quem seria a lua, ou a noite da humanidade? São os japoneses camicases ou os norte-americanos e europeus que calcinaram Hiroshima e Nagasaki?

Para Sokúrov, deve ter algo melhor no planeta...

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