DJ holandês faz dançar em meio ao silêncio

Quem esteve na tenda Silent Disco, na Virada Cultural, pôde ter uma idéia do trabalho de Nico Okkerse. O DJ e produtor holandês criou um novo estilo de festa, onde une no mesmo espaço música e silêncio.

Crédito: Camila Neumam/Folha Imagem
O DJ holandês Nico Okkerse (foto) criador do projeto Silent Disco esteve na Virada Cultural

No evento paulistano, que aconteceu em uma tenda montada diante do Mosteiro de São Bento, centenas de pessoas dançaram cada uma com um fone de ouvido sem fio nas orelhas, da 0h de sábado (26) até as 6h de domingo (27).

Com uma trilha sonora impagável, a experiência era visivelmente divertida para quem estava no local, mas no mínimo, estranha para quem observava do lado de fora, onde o silêncio reinava.

Em entrevista ao Guia da Folha Online, o DJ conta de onde vem a inusitada idéia e de onde vem o bom português que falava o tempo todo com o público.

"Fiquei pensando em como diminuir o barulho da apresentação sem perder a diversão, depois de me apresentar em um festival de teatro onde reclamaram do barulho. Depois disso a idéia dos fones foi necessária", disse rindo.

A escolha de tocar em frente ao Mosteiro foi simbólica. Nada como um ícone do silêncio e calmaria para mostrar que a idéia original faz sentido.

Sempre bem humorado, o holandês falava o tempo todo com o público em português, com um leve sotaque. Questionado de onde vinha tal habilidade, respondeu: "Tive uma ex-namorada portuguesa e os pais dela não falavam nada em outra língua.", disse.

Língua portuguesa

A paixão pela língua portuguesa ficou evidente no set list. Músicas de Cesaria Evora e Jorge Ben Jor tiveram destaque. 'Cesaria é minha cantora favorita', afirmou.

Crédito: Camila Neumam/Folha Imagem
Cerca de 500 pessoas dançavam por hora, na tenda Silent Disco, durante a Virada Cultural

Até a música "Tic Tic Tac", do grupo amazonense Carrapicho --aquela do refrão "Bate forte o tambor, eu quero tic tic tic tic tac"-- foi tocada pelo DJ. O momento era um dos mais divertidos entre os diferentes públicos que ficavam na tenda de hora em hora.

Quando o refrão saia das caixas de som, Nico incitava todos a dançar, mexendo os braços. E era sempre correspondido. Quando alguns se excediam na cantoria, Nico pedia para abaixarem o tom. "Assim os monges vão ficar bravos", disse em tom jocoso.

O público ainda dançou ao som de Frank Sinatra, rumbas latinas, hip hop, música eletrônica e até música ciganas dos balcãs. Nas últimas, jovens e mães com filhos pequenos dançavam em rodas de cirandas e trenzinhos.

As longas filas pareciam valer a pena. A cada hora, enquanto os novos visitantes entravam, os que saíam estavam sempre sorridentes e suados.

Para quem estava do lado de fora, no entanto, a experiência parecia surreal. Ver centenas de pessoas pulando e dançando sem música aparente fazia parte das pessoas rir ou expressar dúvida. "O que eles devem estar ouvindo?", parecia ser o pensamento dominante.

Nico criou o projeto Silent Disco em 2002 e já o apresentou em diversos países. "Fazemos, em média, 200 apresentações por ano. E já nos apresentamos no Japão, China e Indonésia. Mas é a primeira vez que estou no Brasil e pretendo voltar", disse.

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