Mesmo sob ameaças, humoristas do "Proibidão" confirmam novo show

Depois da polêmica envolvendo o humorista Felipe Hamachi e o músico Raphael Henrique nesta semana, o "Proibidão do Stand-up" tem nova edição confirmada para segunda-feira (19), no Kitsch Club (zona sul de São Paulo).

E quem serão os participantes? "Não vou divulgar os nomes agora. Vamos fazer uma surpresa. São pessoas muito polêmicas", diz Luiz França, idealizador do projeto e um dos sócios da casa. Os ingressos custam R$ 40 (antecipados) ou R$ 60 (na porta).

Para assistir ao show, o público precisa deixar as máquinas fotográficas e celulares na chapelaria, além de assinar um termo de ciência.

A primeira apresentação, que contou com Alexandre Frota, Danilo Gentili e Fábio Rabin, terminou com polícia à porta da casa. Isso porque o músico Raphael Henrique se sentiu ofendido ao ser comparado a um macaco durante uma piada de Hamachi. "Conversei com ele, falei que ele tinha todo o direito de ficar chateado, pedi desculpas e falei que não era a intenção", afirma o jovem comediante.

"A pessoa pode se sentir ofendida. É um direito dela. Mas a gente nunca tem intenção de ofender ninguém. Aquilo não é uma opinião própria nossa", completa França.

Abaixo, veja entrevista com Felipe Hamachi e Luiz França.

Crédito: Marcelo Justo/Folhapress Músico Raphael Henrique (esq.) e Felipe Hamachi se envolveram em polêmica com piada racista
Músico Raphael Henrique (esq.) e Felipe Hamachi se envolveram em polêmica com piada racista

BATE-PAPO COM LUIZ FRANÇA

Guia Folha - Como surgiu a ideia do "Proibidão do Stand-up"?
Luiz França - A gente faz show em bares. Mas chegamos à conclusão de que muita gente reclama porque vai ao bar e não sabe ao que vai assistir. Por exemplo, se dissermos o nome de um órgão genital, a pessoa pode se sentir ofendida. Então a gente fez um evento em que podemos falar dessas coisas abertamente. Um lugar onde as pessoas sabem a que show vão assistir, em que a gente vai falar um monte de besteira, um monte de piadas idiotas... Mas são piadas. Não é um conceito e não é para xingar ou ofender alguém.

O que achou da piada do Felipe Hamashi?
Foi uma piada ruim. Uma piada que eu não faria. Mas eu entendo que foi uma piada. O que aconteceu com o menino foi que ele chegou quando o show já tinha começado e não foi avisado que no palco a gente, às vezes, brinca com quem está lá. Ele ficou sentido com a piada, que realmente foi pesada, e chamou a polícia. Depois a gente foi lá, conversou com ele, o Hamashi pediu desculpas e ele aceitou. Mas no dia seguinte ele voltou atrás. Até falou que a gente é nazista. Eu também fiquei ofendido com isso.

Como lidam com a liberdade de expressão e a liberdade do público de repudiar as piadas de vocês?
Eu acho que todo mundo tem direito de opinar, de não gostar. Mas, às vezes, há um pouco de falso moralismo. Por exemplo, quando fazemos uma piada de gorda ou de loira burra, ninguém vai se manifestar. Mas se você fala de negro, por exemplo, a piada é racista. Deixa de ser piada e passa a ser ofensa. Acho que as pessoas podem opinar, mas tem que ir ao show para entender o contexto. É muito vago quando a pessoa fala "estava em um show de humor e o cara me chamou de macaco". Lógico que todo mundo vai falar mal. Eu falaria e seria um dos primeiros. A gente tem recebido ameaças, tenho recebido mensagem no meu celular, estão achando que somos nazistas.

E o termo que o público tem que assinar?
Não tem nenhuma validade jurídica. Aquilo é só um lembrete de "olha, os caras aí falam um monte de besteira". Para não pegar a pessoa de surpresa. Quem está ali sabe que é um show para adultos e que as piadas podem ser pesadas e ter palavras de baixo calão.

Qual é o limite do humor?
O limite é o bom senso. Eu posso fazer uma piada e ter o bom senso de não humilhar uma pessoa, por exemplo. Tem que saber a hora e com quem brincar.

Acha que faltou bom senso pro Hamachi?
Faltou, sim. Na verdade, faltou conversar com o cara e perguntar se podia brincar com ele. Ele foi ingênuo em achar que estava tudo no contexto. Isso é de praxe, brincar com alguém no palco.

Crédito: Divulgação Comediante Luiz França é um dos sócios do Kitsch Club (zona sul) e idealizador do "Proibidão do Stand-up"
Comediante Luiz França (foto) é um dos sócios do Kitsch Club (zona sul) e idealizador do "Proibidão do Stand-up"


BATE-PAPO COM FELIPE HAMACHI

Guia Folha - Vai participar da próxima edição nesta segunda-feira (19)?
Felipe Hamashi - Provavelmente. Eu quero participar. Farei o possível. Já falei com o Luiz França, mas não sei como o caso vai se desenvolver até segunda. De repente, pode acontecer alguma coisa e ser melhor eu ficar em casa. Eu tenho recebido até ameaças. Chegaram e-mails na minha agência me xingando, e um deles era claramente uma ameaça: "toma cuidado por onde você anda". Coisa desse tipo.

Como foi sua conversa com o músico?
Foi tranquila. Tinha muito bêbado no meio e uma galera enchendo o saco dele, falando que ele estava sendo preconceituoso. Eu estava em uma posição para resolver. Conversei com ele, falei que ele tinha todo o direito de ficar chateado, pedi desculpas e falei que não era a intenção. Aí ele apertou minha mão.

Alguma novidade sobre o caso?
Eu só tenho notícias pelo que é veiculado nos jornais. Ninguém me procurou ainda...

O humorista Marcelo Marrom é negro e também brincou com o músico. Você acha que pesa você ser japonês, e ele, negro?
O Marcelo Marrom também brincou com ele, mas não houve problema. É a única coisa explicação que vem à minha cabeça. Acho que pesou esse fato.

Acha que isso pode atrapalhar sua carreira?
Eu acho que vai ter empresa que não vai querer me contratar por um bom tempo.

Como lidar com as críticas?
Eu acho que quem está ali dentro não quer humilhar ninguém. É só para dar risada como se fosse uma coisa entre amigos. Do mesmo jeito que o Marrom é amigo meu e eu posso fazer uma brincadeira com ele. Ali a gente pede um trato no início, que é a aprovação dessas pessoas para fazermos qualquer piada.

Você tem um podcast também?
Sim. O "Péssima Ideia". Nós falamos de atualidades, são os assuntos que estão em evidência naquela semana. Nessa semana, a gente falaria com certeza do meu caso. Nós não gravamos por várias questões... Já falamos do Rafinha [Bastos], do navio na Itália.

Um ouvinte pediu para tirar o podcast do ar? Como foi esse caso?
Foi uma brincadeira com uma pessoa, uma conhecida, ela não gostou. Como era o primeiro, a gente tirou do ar.

Qual foi a piada?
Não podemos falar. Foi um pouquinho pesada. A gente não pode contar, não.

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