Irmãs Milhazes exibem espetáculo denso e ousado em Sesc de SP

Crédito: Nilton Silva/Divulgação
Bailarinos (foto) atuam no espetáculo "Meu Prazer", da irmãs Márcia e Beatriz Milhazes

Respiração e passos. É isso o que se percebe nos primeiros cinco minutos de "Meu Prazer", o novo espetáculo de Márcia Milhazes Companhia de Dança, em cartaz no Sesc Consolação, em São Paulo. Depois disso, uma sonoplastia cuidadosamente escolhida --que às vezes lembra "Betty Blue" [1986, filme de Jean-Jacques Beineix]-- dá ritmo aos movimentos rápidos e repetidos dos quatro atores que compõem a obra: Al Crisppim, Ana Amélia Vianna, Felipe Padilha e Fernanda Reis.

Para quem não está muito acostumado a espetáculos de dança, "Meu Prazer" pode parecer denso demais, com movimentos rápidos e desconexos, exigindo do público mais atenção ao conjunto que apenas à dança. É preciso observar o que resulta da combinação das formas com a luz, da luz com os gestos e expressões e de cada pausa [essas, sim, quase imperceptíveis].

Em 70 minutos de espetáculo, Milhazes consegue expor delicadeza, aflição, desespero, calma, felicidade, angústia, prazer, dor, gozo e faz, de forma linda --e ao mesmo tempo incômoda--, com que percebamos como é que se fala através dos braços. E eles falam, com movimentos rápidos, ininterruptos, aparentemente confusos. É neles que se vê o sinal para cada mudança de cena, a transição do silêncio ao grito.

Crédito: Nilton Silva/Divulgação
Bailarina Fernanda Reis (foto) em cena no espetáculo apresentado no Sesc Consolação

O espetáculo conta com um jardim suspenso, cenário graciosamente criado por Beatriz Milhazes, e iluminação de Glauce Milhazes, receptivamente irmã e mãe de Márcia.

Os atores interagem entre si de várias formas, usam até suas próprias sombras, mas se tocam pouco e também pouco se olham. Mas isso faz parte da criação de Márcia Milhazes. É clara a intenção de usar os olhos dos atores como parte da cena, como contadores de histórias, sem que nunca ocorra o cruzamento direto de olhares, seja entre eles, seja com o público.

Em diferentes momentos da apresentação é possível perceber o bom casamento da criação assinada pela família Milhazes, mas vale ressaltar a cena do sussurro, em que as duas atrizes se distinguem pela intensidade da expressão que impõem à cena. "Meu Prazer", que encerrou ontem sua temporada em SP e vai agora para o Rio, é uma obra densa e ousada, não muito fácil de ser percebida, mas vale experimentá-la.

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