Nomes do cinema levam recursos audiovisuais para peça em SP

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Marcelo Lazzaratto e Djin Sganzerla na peça "Tragicomédia de um Homem Misógino"

Em um mundo multimídia, nada mais normal que artistas circulem entre áreas diversas. Dentro dessa tendência, o documentarista Evaldo Mocarzel (de "Mensageiras da Luz: Parteiras da Amazônia", de 2004, e "Jardim Ângela", de 2007) e o diretor e ator André Guerreiro Lopes (que protagonizou "Luz nas Trevas - A Volta do Bandido da Luz Vermelha", previsto para estrear no fim deste ano) se uniram na produção de "Tragicomédia de um Homem Misógino", peça montada pelo Estúdio Lusco-Fusco que está em cartaz no Sesi Vila Leopoldina (região oeste de São Paulo) desde sexta-feira (7).

O elenco também é contaminado pela sétima arte. Nele, está a atriz Helena Ignez, que foi casada com Glauber Rocha e é conhecida como "a musa do cinema novo". Ignez atuou em "O Bandido da Luz Vermelha" (1968) e dirigiu o longa "Canção de Baal" (2008). Ainda compõe o elenco a jovem Djin Sganzerla, filha de Helena Ignez com Rogério Sganzerla e esposa de André Guerreiro Lopes.

Se for assistir à peça, prepare-se: o texto é denso e tem uma profundidade psicológica que beira o hermetismo. "Tragicomédia..." revela um homem de meia-idade que foge da família para uma praia isolada, acompanhado apenas de uma enfermeira. "Trata-se de um texto politicamente incorretíssimo, de um homem mal-resolvido com a própria vida", contou Evaldo Mocarzel ao Guia.

No isolamento, o homem recebe doses de morfina para apaziguar uma dor física, enquanto enfrenta delírios e os fantasmas da mulher e da filha lésbica. Além disso, o personagem se depara com sua repulsa pelas figuras femininas e pela instituição familiar.

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Dramaturgo e documentarista Evaldo Mocarzel fala do texto

Misoginia

Mocarzel encarou um percurso criativo difícil para chegar ao texto. "Acho que exorcizei um fantasma meio que demoníaco no meio de todo esse processo. Confesso que, em determinados momentos, fiquei chocado com o que escrevi", afirmou.

Ele ainda disse que a dramaturgia nasceu de um momento delicado: "Uma pulsão misógina [de ódio ou repulsa por mulheres] que tive ao enfrentar o início da adolescência da minha filha mais velha. Mas tudo é ficção, não sou de modo algum aquele personagem e acho ainda que o teatro é o espaço ideal para exorcizar os anjos e também os demônios da condição humana."

Multimídia

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"Tragicomédia de um Homem Misógino" fica no Sesi Vila Leopoldina até 27 de setembro

A montagem é a maior contribuição da peça, influenciada pelo fato de os envolvidos no espetáculo terem um pé no audiovisual. Enquanto o homem misógino perde-se em alucinações, o fundo do palco, de faixas brancas, reflete um vídeo, que mostra ondas se quebrando na praia ou pássaros voando.

Em certos momentos da peça, um jogo de luzes permite iluminar o espaço atrás das faixas, onde vemos elementos da mente perturbada do personagem. A trilha musical ao vivo, que inclui sons de violoncelo, violino e percussão conduzidos por Gregory Slivar, fortalece ainda mais a encenação.

Segundo o diretor André Guerreiro Lopes, a opção pelo jogo entre atores, as projeções de vídeos e a música tem a finalidade de "materializar cenicamente as imagens mentais do personagem".

Ao unir esses recursos, e deixar à vista o projetor de vídeo e o músico que cria a trilha, o diretor se esforça em "manter espaço na encenação para o espectador ser cocriador". Completa: "O que me fascina no teatro é a convenção, o jogo entre a cena e o público. Já disseram que teatro é a mentira mais verdadeira que existe e é isso mesmo, no teatro não há limites para a imaginação."

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