Brasileiro, nordestino e especialista em culinária japonesa. Com esse currículo, o chef paraibano Carlos Ribeiro, 48, sente-se completamente à vontade morando em São Paulo, capital que chama de "grande encruzilhada". A citação é do livro "A influência da gastronomia Nipo-Brasileira da cidade de São Paulo"', coletânea de artigos que coordenou e que foi produzida por alunos de gastronomia da Universidade Paulista (UNIP).
Em entrevista ao Guia da Folha Online, ele explica que o seu interesse pela cultura e pelos sabores do oriente é antigo. "Quando eu era criança, tinha um verdadeiro fascínio pelo monte Fuji. Quando fiz amigos japoneses na minha adolescência, esse interesse só aumentou", diz.
Mais antiga ainda é a sua inclinação para a gastronomia. "Tanto os meus avós paternos quanto os maternos eram ligados à área. Um deles tinha hotel e o outro churrascaria", explica. Contudo, sua trajetória e o gosto pela gastronomia não é linear, pelo contrário, se assemelha mais a uma teia de encontros e desencontros que não poderia terminar em outro lugar senão na "grande encruzilhada".
Sua história com a cidade remete à primeira atividade artística a que se dedicou: a música. "Estudei canto e piano, sempre fui selecionado para participar do Festival de Inverno de Campos do Jordão. Faz muito tempo que não canto, mas sempre me destaquei pela voz."
O evento que despertou de vez sua vocação gastronômica aconteceu quando cursava relações públicas e era estagiário em uma agência. Na ocasião, o chef de um restaurante tirou férias e ninguém em sua equipe sabia falar francês. Como boa parte das receitas estava escrita no idioma, a procura por alguém que entendesse as receitas chegou até ele. "Eu só comecei a falar dos ingredientes, do preparo, e as pessoas já se lembravam, só não sabiam ler a receita", afirma.
Agradecido, o chef francês quis retribuir o favor de algum modo, e logo aceitou o pedido para que o ensinasse a cozinhar. A partir daí, ele começou a dividir o seu tempo entre os estudos, o trabalho e a cozinha. "Eu coloquei um anúncio no jornal e passei a cozinhar por encomenda. Isso começou a dar tão certo que eu me vi obrigado a abrir um restaurante."
O jovem dono de restaurante estava indo bem. A casa tinha mesas lotadas todos os dias, mas nem sempre o sucesso de um restaurante depende de sua freqüência. Segundo ele, o Plano Collor foi o grande responsável pelo fechamento do negócio. "Eu era pequeno e fazia compras no supermercado, o que tornou impraticável manter a casa aberta. Decidi fechar enquanto não tinha nenhuma dívida."
Após prestar concurso e começar a dar aula na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), ele veio passar sua primeira grande temporada em São Paulo para fazer mestrado e nunca mais voltou. "Eu estava bem aqui, comecei a estudar ainda mais culinária japonesa. Eu conhecia muito a história e a cultura dos pratos, mas não tinha prática suficiente para prepará-los."
A determinação rendeu frutos. Hoje ele é um respeitado chef nessa área e atua como consultor gastronômico e jurado de um concurso de receitas promovido por uma multinacional. "Gosto muito dessas atividades. Em consultoria sempre desenvolvo cardápios e nessa nova experiência do concurso leio milhares de receitas e sempre aprendo coisas novas", diz.
Entre as aulas que ministra, o trabalho de consultor e o de jurado, ele prepara uma tese de doutorado sobre hibridismo cultural e os 100 anos de imigração japonesa no Brasil e ainda um livro que será lançado pela Publifolha.
Sobre a tese, ele acredita que não poderia ser produzida em melhor momento. "As festividades do centenário salientam ainda mais as influências da cultura daquele país no nosso e isso vem me ajudando muito no trabalho", diz.
Paulistano por opção, ele não pensa em viver em outro lugar. "Morar aqui me permitiu fazer exatamente o que eu sempre quis. Hoje sou realizado profissionalmente e assumidamente apaixonado pela cidade", finaliza.
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